1.10.06

VOTO NULO

Ventura Picasso

Eu pergunto: porque o mesmo bloco político que abasteceu a legitimou o poder nos últimos 60 anos, procura ferir o coração de um país que caminha para um futuro próspero? Porque ignoram os avanços sociais, e querem a destruição, a impugnação ou o impeachment de um governo, que é visto por eles, como se fosse de um homem só em benefício próprio? O esforço para transformar mentiras em verdades, vai da ambígua interpretação das pesquisas ao voto nulo, ao gol anulado, ao juiz ladrão e quiçá os canhões, um “pesadelo”. Respondendo, o mito recita a letra de Paulo Tapajós: “Olha o muro, / olha a ponte / olhe o dia de ontem chegando / Que medo você tem de nós / olha aí, olha aí... / Você corta um verso, eu escrevo outro (...).

Tanto quanto Felix Guattari, sou homem de grupo, de bandos ou de tribos e, no entanto, um homem sozinho, como um Título de Eleitor. Um documento que me pertence, mas não é meu. A única coisa que tenho é minha vida, cheguei a estipular um limite como Paul Lafargue, mas não planejei o suicídio para extingui-la. Se vivesse no começo da civilização, no gênese como Adão, ou fosse um ancestral do homo erectus, seria um anarquista, e com certeza lutaria pela igualdade de todos, e pelo direito de escolher o futuro através do voto. Fosse eu, um cidadão de Tours, ao sul de Paris, entre o século XV e XVIII, residisse no castelo de Chenoneau entre os quartos de Diana de Poitiers e de Catarina de Médicis, sem duvida, seria um anarquista. Apoiaria um morador monarquista radical, moralista e profeta da burguesia que previu a Revolução Francesa (julho-1789), não abandonou o luxo palaciano, mas viveu e desfrutou da liberdade que a revolução pregava: O genial Balzac escreveu ‘A Comedia humana’ em 17 volumes, considerada por Marx como uma obra que ultrapassou a literatura, e é base da moderna sociologia.

Aceitar os argumentos de um discurso feito por desconhecido, é uma imprudência carregada de ingenuidade. A política e a religião requerem crédito e tradição. Todos os discursos são abstratos, falamos a esmo, para conhecidos ou não. A mentira tem presença cativa na comunicação de homens vaidosos. Ouvi dizer que os políticos são humanos, coitados. A polícia federal existe para cuidar de quem nos engana como faz atualmente, e que nunca havia feito.

Voto contra ou a favor, mas sempre em defesa dos interesses sociais e coletivos. O meu voto não é moral, é revolucionário. Anular o voto é como o suicídio por questões mal resolvidas, emocionais e egoístas. Pensar que assim, nessa fuga, se resolvem problemas, mas acaba deixando para quem aqui fica uma pendência pessoal viva. Anular o voto é morrer sem lutar, é uma morte banal, um desperdício.
O direito de um cidadão termina onde começam os direitos do outro. Velho chavão, mas abre uma indagação possível: Se o voto é uma ferramenta de ação coletiva, como pode ser democrática a anulação do voto? Que direito democrático tem o eleitor que, ao se abster, entrega nossas tecnologias, nossas empresas estatais, nossos bancos de fomento, rodovias e ferrovias ao capital internacional globalizado (a Petrobras ao Bush por exp.)?

Paul Lafargue nasceu em Cuba em 1842, aos dez anos de idade mudou-se para Paris. Liderou os movimentos operários do século XIX, gravitando entre socialistas e anarquistas. O panfleto, ‘O direito à preguiça’ (1880) que apresentava o signo “dos três oito”: 8 heures de travail; 8 heures de loisir; 8 heures de sommeil, após muita luta foi aceito pela elite, e logo após, a semana inglesa é praticada. Hoje, porem, 2006 a poucos dias das eleições, a mídia, antigo quarto poder, agora associada ao capital, garante o capitalismo das horas extras. O voto nulo é a favor desse sistema, a favor das privatizações, da corrupção, da Febem e de ‘uma penitenciária para todos’. O Titulo de eleitor é meu e o meu voto é da minha nação, voto no “menos pior”.

Ventura Picasso –

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