23.12.06


“Natal sem Fome”

Em nossas vidas, a esperteza, o uso do ‘código de ética’ para autodefesa, as manobras amalandradas para obter resultados sempre embaçados, é uma constante no dia a dia, ‘é normal’. O pãozinho de 50g está mais leve, assim ficamos com a impressão de que levamos mais pães pagando por quilo. Somos felizes, soltamos um balão de ensaio de 91%, mas ficaremos contentes com 45%.

A campanha “Natal sem fome” criada por Herbert de Souza, o Betinho, após 13 anos chega ao fim. Hoje a ONG Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, fiscaliza o programa “Bolsa-Família” que está prestes a atender 11 milhões de residências. A Rede Globo, e seus artistas que ajudam voluntariamente o “Natal sem Fome”, e estão anunciando o “Natal com Brinquedos”, sem esclarecer ao público porque não entregam mais as cestas de alimentos.

Há pouco tempo, durante a campanha eleitoral, no primeiro turno fiquei chocado com as declarações de um candidato a deputado, que para arrebanhar uma votação pífia, além de bater no candidato presidente, qualificou o programa Bolsa Família de Bolsa Esmola. A resposta veio nas urnas, e a votação obtida pelo tal candidato não daria para eleger o suplente de síndico do meu condomínio. Vai passar o Natal devendo a campanha.

Natal, para os cristãos mais sensíveis é um momento de reflexão. Eu efetivamente, não sei se é uma data alegre ou triste, só sei que é muito comercial. O ‘espírito natalino’ condicionado ao consumo globalizado, que padroniza o sistema de venda dos produtos que a população deve comprar, e compra. Milhões de almas diferentes usando os mesmos produtos, das mesmas marcas, o mesmo pernil e o panettone etc. Lembrar da data, por solidariedade ou pela festa do Natal, talvez a maioria ignore.

Não quero ser traído pelas minhas lembranças, mas lá pelos idos de junho de 2003, Maurício Corrêa na Presidência do STF, ao assumir o cargo e, na presença do Presidente Lula, desfechou um discurso de sindicalista sangado, detonando a Reforma da Previdência, principalmente, aos itens que alcançavam diretamente os magistrados. Foi uma manifestação corporativa ou apego aos vencimentos dele? Nunca saberemos.

Sou obrigado a concordar, sou brasileiro não tenho memória. Mas, não esqueço o mês de março de 2005 quando o outro Presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim juntou-se ao ‘saudoso’ Presidente da Câmara, Severino Cavalcante para conceder um reajuste salarial a todos os parlamentares e juízes. Homem de palavra queria cumprir promessa de campanha após conseguir os 300 votos, coincidência ou não, os mesmos votos que cassaram o Deputado José Dirceu. Porém, no momento da assinatura, o Presidente do Senado Federal, Renan Calheiros tinha na mão uma caneta sem tinta e não funcionou, o nobre político melou o conchavo e os outros dois pegos com o dedo no gatilho deram tiros de festim.

Sem dúvida, foi uma oportunidade única e perdida. O Severino se autoproclamava um defensor dos parlamentares, principalmente os do baixo clero seus fieis eleitores. O ex-Ministro Jobim, ‘impoluto’, longe de mim querer a ele induzir a pecha de oportunista, mas diante a fama do ‘companheiro’ da Câmara, que nunca temeu escândalos, e pouco se preocupava com a tal falta de vergonha, entendo que o Ministro estava de olho no aditivo salarial, solidário, dele e da categoria.

Essas alucinações econômicas, pesadelo pregado na memória que não tenho, e abobalhado fico imaginando qual a diferença entre um Severino populista e um Rebelo comunista. A principio, os dois queriam a Presidência da Câmara, mas de perto, percebemos que a isca é a mesma. O negocio é dinheiro nas mãos, votos no caixão e o resto é chuvarada.

Neste Natal, todos estarão felizes. O ex-ministro de 2003 também, e se patriota fosse, poderia ter iniciado a Reforma de Previdência. Como não é possível abrir mão de dinheiro algum, chegamos aos dias de hoje, metidos na mesma camisa e com o mesmo time. A esperteza está presente no pãozinho, na Câmara e na TV. E eu pergunto: Será que passou pela cabeça da banca do STF uma possibilidade invertida de lidar com o dinheiro público? Poderiam diminuir os salários dos juizes, para igualá-los ao dos deputados. Não! Não estou lembrado de alguma proposta como essa. Sou bobo, mas sou feliz...!

Ventura Picasso –3555-21-12-06

0 comentários: