26.12.07

Reflexões Experimentais
Folha da Região

27/12/2005

Um ano terminando e outro começando. Aprendi a olhar para trás, no retrovisor da minha história, e planejar os meses que me levarão ao dezembro de 2008. O que fiz está feito, mas o que me é difícil explicar, como sempre, o que deixei de fazer. Convivendo com o Grupo Experimental da Academia Araçatubense de Letras, eu com meus companheiros escritores concluímos o sexto livro de poesias, contos e crônicas, sem patrocínio o “Experimentânea 6”, prefaciado pelo acadêmico Lourival Amilton Latenschläger.

Usando o velho chavão de não declinar nomes para não ser injusto com alguns. Há, porém nomes de visitantes ilustres inesquecíveis como: Dr. Tito Damazo (Presidente da AAL), Cecília M. Vidigal Ferreira, Dr. Geraldo Da Costa e Silva, Dr. Lourival A. Lautenchlãger (Lorico), Cidinha Raracat, Maria Luzia Villela, Marilurdes M. Campezi, Marly Souto, Paulo Castilho (Sem Tempo), Paulo Napoleão (Gigante Napo) e Dr. William Moffitt Harris (Incansável Cafezinho Literário). Impossível deixá-los fora da nominata.

Outro nome que guardamos e merece nosso agradecimento: Yara Pedro de Carvalho, que coloriu os buracos da cidade, freqüentadora assídua de todas as reuniões do Grupo Experimental, do Clube de Leitura e da Oficina de Contos. Em 30/12/2007, Yara foi escolhida na AAL para ocupar a cadeira deixada pela saudosa Odette Costa, cujo patrono é Guilherme de Almeida. Em sua posse, apresentada por Hélio Consolaro, seu padrinho, surpreendeu. Discursando da tribuna oficial da Câmara Municipal de Araçatuba, encantou a todos com o acumulo cultural que possui. Para representar dignamente Guilherme de Almeida foi conhecer a residência do poeta, para nós, atitude rara, surpreendente e emocionante. A nossa Yara é tudo isso.

Aos vencedores o nosso carinho: Rita de Cássia Lavoyer, vencedora do concurso de poesia Osmair Zanardi com “Vida Sem Dor”; Aristheu Alves apresentou “Extraterrestre” vencendo a fase municipal do 20º Concurso de Contos Cidade de Araçatuba 2007; Anízio Canola, classificado no Mapa Cultural Paulista na modalidade Literatura/Conto com “Notícias do ‘Front’ de Guerra”, recebendo Menção Honrosa. Como sempre os participantes do Grupo Experimental competindo e ganhando concursos. Nosso grupo é aberto e recebe qualquer pessoa que goste de literatura, saiba ou não escrever, é uma oficina livre para quem quiser fazer arte literária.

Por fim, agradecemos à Masé e ao Clovis, representantes do SESC Ata., ao jornal Folha da Região especialmente à editora do Caderno Vida, Agatha Urzebo. Agora estamos fechados para ‘balanço’ e retornaremos após o carnaval. Boas Festas!

Ventura Picasso – Coordenador do Grupo Experimental da AAL.
2267

18.12.07

Agrigílio
06/12/2007

Folha da Região
17012008
Parou no portão e ameaçou voltar. Ficou sob o automóvel. Leandro fez uma graça e ele não deu à mínima nem ligou. Se o Teiú perder a cauda, provavelmente, ficará com a síndrome da cauda fantasma, terá sempre a impressão de que o rabo está no lugar, mas com uma vantagem, o prolongamento da coluna vertebral volta a crescer e tudo se normalizará. Não é o caso do Agrigílio que não cuida do rabo. A famosa batida de Agripino com Virgílio que votam contra a saúde da nação para castigarem uma pessoa, com ameaças avisam vamos derrotá-lo:
─ Ele vai ver!

Essa história me levou a uma cena de um filme, onde o herói tenta, por uma aposta feita, seduzir uma beata, por sinal, linda e virgem. Persistente, Mastroiani avança sobre a filha de Maria que estava receptiva, ninguém é de ferro, até esquecera-se de Deus. Num piscar de olhos, cai uma tromba d’água inundando toda orla. As águas da enxurrada alcançavam a janela da casa. Apavorada, aos gritos revelou ao parceiro que estava sendo castigada por Deus. Com aqueles gestos característicos de um italiano malandro, balançado a mão direita junto ao rosto da pecadora falou:
─ É louca? Então você acha que Deus vai destruir uma cidade para salvar a tua virgindade?
Em seguida, inconformado, jogou-se no aguaceiro.

Podemos comparar a cena, à realidade da votação da CPMF. Um potiguar e outro amazonense querendo destruir uma pessoa indestrutível prejudicam a nação.. Formaram uma dupla, que em minha opinião, representam um lobby econômico, tem dinheiro obnubilado nesse angu, até hoje nada se fala sobre essa minha visão. A quem interessa a interrupção de um imposto que dá direito ao Governo Federal de controlar o movimento bancário de grandes fortunas? Talvez empresários corruptos e sonegadores, contrabandistas de armas, narcotraficantes e por que não os bancos? Nesse canil só têm cachorro grande que não freqüenta o SUS.

Tenho certeza que o Teiú não está preocupado com a contribuição provisória. O único interesse do lagarto reside em manter o matagal que se expande no rabo da Rio de Janeiro, para isso não faz lobby, tem Fã Clube. Imagino que se ele fosse flex-total, e soltasse fogo pelas ventas, como diz o Mané, seria mais importante. À noite, voltando à toca, iluminando a trilha diriam: “lá vai passando a procissão, se arrastando feito cobra pelo chão”, cantando a música do Gil.

O Agrigílio não está dando a devida atenção ao seu prolongamento posterior. O rabo de alguns animais, quando amputado não volta a crescer, mas pode ser cassado. O Calhorda está a salvo, porém o espelho d’água do Planalto não está pra peixe, ainda mais agora, demônios, honestos e moralistas. Não são loucos e de santos e artistas sobram risos...
Ventura Picasso - 06/12/2007 2242

27.11.07


Cláudio Abramo, um cético apaixonado
Ricardo Muniz 03/12/2002

Cláudio Abramo foi o jornalista responsável pela ampla modernização das redações do Estadão e da Folha de S.Paulo. Trotskista, sempre fez questão de frisar que compreendia e trabalhava conforme a natureza do capitalismo. Admitia que deixara de fazer tudo para fazer só o jornal, num brutal ritmo que o forçou a abrir mão até da militância política.
Mas não admitia falta de opinião própria. Uma reportagem, para Abramo, tinha de combinar agudo senso de observação com a presença de referenciais universais. Ao mesmo tempo, serenamente reconhecia a engrenagem da grande imprensa. “Quando um jornalista vai trabalhar numa empresa, deve perguntar o que é objetivo, segundo aquele jornal.”
Apaixonado pela profissão, ao fim de sua carreira queixava-se dos jornalistas que observava: “estão fazendo uma coisa cuja natureza intrínseca e cuja beleza não enxergam”. Por diversas vezes recomendou ceticismo, investigação e reconhecimento das complexidades como elementos necessários a um exercício digno do ofício.
Para o autoritário comandante de redações, que não teve paciência para ensinar nas salas de aula da Cásper Líbero e da ECA, “é muito difícil improvisar jornalistas através de cursos em escolas canhestras, com professores em muitos casos vítimas da teorização cretinizante ou do pragmatismo castrador”. Mas defendia o curso e a regulamentação da profissão, ainda que com modificações, pois desconfiava da cada vez maior oposição dos patrões a um e outra.
Com uma pitada de amargura, Abramo se perguntava qual o objetivo dos jornalistas brasileiros, e como se estivesse seguro da resposta – fazer carreira, ganhar dinheiro –, despedia-se, protestando: “Então já não sou mais jornalista, já pertenço a uma espécie em extinção.”

Jornalista de nascença (cwabramo.sites.uol.com.br/cláudio.htm)

Viajou muitíssimo, escreveu muitíssimo, assinando o nome ou não assinando, ou assinando com pseudônimo.
Recebeu duas medalhas na vida: uma do governo italiano, pelo traba1ho clandestino na resistência italiana durante a guerra; outra do governo da República Democrática Popular da Polônia, em reconhecimento ao apoio dado à luta antinazista dos poloneses.
Não é membro de academias ou clubes. Fez o curso primário e os cursos de madureza do ginásio e do colégio, estes depois de maduro. Não tem curso universitário. Fala corretamente cinco línguas. Escreve em português e inglês, corretamente. Nunca publicou livros. Nunca fez poesias. Nunca escreveu ficção, nem a jornalística. Dirigiu, marginalmente, a Folha Socialista, jornal do Partido Socialista Brasileiro, do qual foi membro alguns anos; e deu o nome, como diretor-responsável, sem nele trabalhar, ao Portugal Democrático, da resistência antifascista portuguesa.
Nunca entrevistou atrizes de cinema, cantores, Jânio Quadros, o papa João Paulo II ou Winston Churchill...

20.11.07


QUEM ME MATOU?

Era um final de tarde, no cemitério não havia viva alma, apenas Heitor Cândida. Ia em direção à saída, subia apressadamente, o dia perecia noite, relâmpagos cortavam o céu, trovões ensurdecedores anunciavam um temporal. O vento assoviando nas cornetas dos túmulos burgueses avisando os urubus perfilados que o mar não está para peixes.

Heitor, nunca foi muito chegado a cemitérios, velórios ou despachos nas encruzilhadas. Morto, efetivamente, não tinha vez no seu happy hours, sem pruridos confirmava:
─ “Tenho medo dessas coisas”.

O portão, para ele, parecia cada vez mais distante. Apressadíssimo, ofegante, caminhava entre as árvores sombrias, estranhamente ouve os seus próprios passos estourarem no piso irregular do corredor principal do cemitério. Ele andava muito, mas não saia do lugar. Como num pesadelo, o coração começa a bater sonoramente atrás das suas orelhas. A sensação torturante se agrava quando a correria de um gato que perseguia uma ratazana, no estouro de um trovão, congela os bichos arrepiados. A explosão espanta uma coruja que voa num mergulho silencioso, risca com suas garras a cabeça do Heitor, arremete urrando ameaçadoramente.

Heitor estanca. Não consegue mais andar. A respiração é forçada, não há mais sincronismo pulsação/respiração, ele bambeia muito zonzo, e ouve uma voz:
─ Heiiitooor, me espere!!!
Pensou em alucinação: ─ Isso deve ser a tal síndrome do pânico, vou enfartar.
Não acreditando, tentou sair daquele quadrilátero maligno, mas sua perna não se moveu. Como se tivesse perdido o controle motor. Estático!
─ Heiiitooor, me espere!!!
Mais próximo, um vulto mal focado, agora em sua frente notou que não se tratava de um estranho.
─ Porra Beto, que puta susto! Meu.
─ Ainda bem que te encontrei companheiro. Estou precisando da tua ajuda.
─ Diz aí, qual é o problema, fala logo que estou com pressa.
─ Você deve ter visto no jornal que me mataram. Eu quero que você encontre o meu assassino.
─ Pô, meu! Se você que é o morto não sabe quem te matou, como é que eu vou saber. Vai procurar a polícia cara.
─ A polícia não sabe nada!
─ E eu com isso?! Vai lá à DIG, conta a tua história pro Rodrigão que ele desata esse nó.
─ O Rodrigão falou pra minha mulher que ninguém contou pra ele. Não recebeu, sequer, um único telefonema anônimo. Desse jeito, como é que ele vai saber?
─ A polícia ganha pra quê, meu?
─ Você sabe, que quando eu vivia, eu era pedreiro, mas se fosse milionário, esse assassino cafajeste que me mandou pra cá, já estaria em cana; é ou não é?
─ É.
Ventura Picasso - Coordenador do Grupo Experimental da AAL
2098






FANTASIA

Uma história comum, mas de difícil aceitação, uns poucos convivem com essa carga. Os valores éticos sociais, como principio, transitando lado a lado com os limites da moral individual, entre um casal que vivia muito bem, como dizem os de fora, felizes. Amélia não tinha queixas. Bernardão um bom marido. Cumpridor dos deveres de um patriarca moderno, e na cama não tinha igual. Noventa minutos na preliminar e mais noventa na hora do jogo propriamente dito. No currículo, só topo de pódio, e com a ferramenta de macho, nunca perdeu um único concurso. Ele é famoso.

De repente, a fartura acabou, e sobra o ditado popular: “Em casa que falta pão, todo mundo grita, mas ninguém tem razão”. O agora Bernardinho perdeu a inspiração, aquele ímpeto erótico foi racionado, escasseou e começam as primeiras falhadas:
─ Isso nunca me aconteceu antes... É a primeira vez, disse ele.
Quando o expediente terminava, ele já não tinha mais pressa de voltar para casa. Só vergonha, se sentia um fracassado.

A mulher não é lá essas coisas, mas não é de se jogar fora, padrão para uso caseiro. E como sempre, nessas situações, a esposa, se sente vítima de um complexo: “será que sou desqualificada para o bom gosto, e o apetite sexual do meu parceiro”?
O primeiro pensamento é a dúvida, muitas vezes se acha feia, ridícula e imprópria para “uso” do outro etc.
Sai pelos cantos perguntando para o primeiro que encontra:
─ Você me acha atraente?

Nessa situação liga para a irmã mais velha e relata o fato. Esta por sua vez recomenda prudência:
─ Pode ser apenas uma crise existencial. Logo passa, mas prepare todos os dias de manhã uma gemada com Caracu, isso pode fazer a diferença.
─ Eu fiz um refresco de catuaba com três Viagra’s diluídos, ele quase pega fogo, mas nem assim funcionou.
─ É melhor você falar com ele, pergunte qual é o problema.

A boa mulher, companheira inigualável, acredita que a verdadeira felicidade não está neste mundo. Para alcançar a vida celestial, o sacrifício é necessário. Sexta-feira vai ao terreiro de Umbanda, sábado a noite na igreja da Matriz e no domingo, no culto das 20h.
Tomada de coragem, compreensiva Amélia falando ao companheiro quis saber:
─ O que está acontecendo? Vamos conversar, assim podemos tentar resolver esse problema. É alguma coisa comigo, com o teu chefe na indústria de conservas? Você foi rebaixado, está numa nova função, não recebeu aumento de salário, atrasou o pagamento?

─ Antes fosse uma dessas as causas dos meus problemas. Quero confessar a você Amélia, e não sei como, mas estou possuído por uma terrível compulsão: Uma vontade incontrolável de colocar o pênis na cortadora de pepinos.

Espantada, a esposa sugeriu que ele procurasse um psicólogo, mas Bernardo resistindo, prometeu que iria pensar no assunto. Enrolou, enrolou até que a esposa, vendo que estava tudo perdido, perdeu a paciência e concordou: ─ Coloca logo esse negócio na cortadora de pepinos. O problema é seu. Resolva-se!

─ Ao telefone, mana você não imagina! Sabe o que ele quer fazer?
─ O quê?
─ Cortar o pinto!
─ Ai! Querida, ele deve estar muito doente. Uma amiga me contou que o marido teve um distúrbio bipolar. Na cama ele ria e chorava ao mesmo tempo. Demorou seis meses nessa palhaçada, mas sarou, voltou ao normal depois que ela falou para ele que iria arrumar outro homem. Homem que é homem, não ri e não chora, principalmente, na cama.
─ A vizinha aqui ao lado, me falou que pode ser mania infantil, por o pênis na cortadora de pepinos é coisa de criancinha que não sabe o que fazer com aquilo. Pode ser que seja a tal síndrome de Peter Pan. Vou desligar, ele está chegando.

Esgotado, deixou o corpo cair no sofá. O abajur de faiança explode no chão. A mulher aparece na sala espantada. Ao ver o marido prostrado, joga-se a seus pés, nervosamente solta o cinto, abaixa a calça e a cueca, aliviada vê aquilo que todas as mulheres mais gostam nos homens.
Estava intacto e exclama: ─ Deus seja louvado.

Ainda no sofá, cabisbaixo, profundamente abatido Amélia quis saber, enfim, o que acontecera, perguntou:
─ O que aconteceu querido?
─ Lembra-se da minha compulsão de enfiar o pênis na cortadora de pepinos?
─ Mas você não fez isso!
─ Sim eu fiz!
─ E o que aconteceu?
─ Fui despedido.
─ E a cortadora de pepinos? Machucou-te?
─ Não, ela também foi despedida.

Ventura Picasso – Conto: “Fantasia” intertextualidade de Piada da internet.
Ata. 8/11/2007
3629

OFICINA DE CONTOS - Rita de Cássia Zuim Lavoyer

19.11.07

“UM” OUTRO LÁ!
Folha da Região 21/11/2007


Alguns escritores amadores, aqueles que não conseguem editar um artigo no jornal, um livro, e humildemente, não se reconhecem como artista e nem sabem que escrever é pura arte, talvez a mais pura. Na verdade, o artista escritor é aquele político que se expõe e escancara a alma, sem medo ou pudor. Deixa aos bisbilhoteiros críticos, ou mesmo aos analistas literários, a porta do seu mundo particular aberta com a inscrição: “Entre sem bater, você não está sendo filmado”.

Existem, porém, os técnicos que escrevem manuais para uso de um equipamento, relatórios, lâminas informativas, projetos, normas sociais e enfim, todo tipo de literatura específica. Usam argumentos necessários para facilitar a utilização de um produto. O entendimento desses textos deve ser igual por todos os usuários, e isso não é arte.

Na crônica, na poesia, no conto e em tantas outras formas de comunicação, o escritor será sempre surpreendido por interpretações diferentes do que pensou e grafou. Quando abordado por um leitor que entendeu a minha escrita de uma forma diferente do que criei, a sensação me é agradável, descubro junto ao outro um pensamento que não me ocorreu. Para mim, essa outra visão é, antes de tudo, democrática.

Ao discordar de uma crítica em um artigo, e tentando “explicar o inexplicável” a um técnico que têm no imaginário a verdade final, fui agredido por pensar diferente.
─“(...), agora me vem ‘um’ outro lá (...)”, escreveu o endeusado.
Discordei das suas “verdades”, mas não deveria. A teoria fascista prega que devemos fazer apenas o que nos mandam, e calar. Essa bronca me levou a refletir: quem será?
E atônito, imaginei, o que esse tipo pensava naquela hora:
─ “Você sabe com quem está falando?”.

Quando um engenheiro faz um projeto, é possível provar, antes da obra pronta, que o objetivo será alcançado. No campo jurídico, o embasamento nos parágrafos das leis, vendando os olhos da Justiça, o entendimento é reto: Só pode haver um agressor havendo um agredido. Nas causas jurídicas, nos tribunais, algumas teses são obras literárias. A quantidade de peças teatrais e audiovisuais comprova que a história de cada julgamento, contem componentes emocionais de grande valor artístico.

Existem doutores que são artistas, e outros que escrevem, mas acostumados à leitura técnica, ingenuamente, acreditam nas notícias “plantadas” na mídia, e aí surge a opinião perfeita sobre o noticiário imperfeito. Perco-me na dúvida: Estaria eu lidando com uma personalidade doentia e reacionária, ou com uma alma técnica sem mácula? Eu não acredito em ingenuidade política, nela, até as lágrimas são planejadas.

Ventura Picasso – Coordenador do Grupo Experimental da AAL - 18/11/2007
2206.

30.10.07


Vergonhas
Folha da Região 30/10/2007

Sobre o editorial "Vergonhas araçatubenses" (26/10, Opinião, A2), nos alertando sobre assuntos da mais alta importância para a nossa cidade, listando alguns problemas bizarros, como ao que se presta a AEA, vergonhosamente, a divulgar prostíbulo. Buracos produzidos pela chuva e aqueles que nos envergonham construídos pelo Daea. Na política a vergonha é geral, na saúde, dengue, leishmaniose e meningite aparecendo, isso sem falar do barbeiro nas palmeiras. Faltou espaço na coluna para o nepotismo, que é uma vergonha, bem como a quantidade de assessores e dos cargos de confiança. Por fim, os processos em andamento que rondam o poder Executivo. Os políticos que poderiam mobilizar a sociedade nada fazem. Como tudo tem limites e em defesa dos direitos sociais e individuais é hora de se discutir a possibilidade da intervenção do Estado no nosso município. Seria mais uma ação que o legislativo deixa de cumprir repassando a outro poder. Afinal, se "todo o poder emana do povo" e se cabe ao Estado a intervenção no município, a sociedade organizada poderia criar o plebiscito cobrando a intervenção.

Ventura Picasso, Coordenador do Grupo Experimental da AAL, Araçatuba

17.10.07


Companheiro Dunga!
Folha da Região
23/10/2007
Fui convocado! Acessaram o meu passado acordei de um pesadelo, ou de um longo coma e ao abrir os olhos, ali está o flash-back, como feijoada na cumbuca borbulhando, me falando: “o passado deve ser passado a limpo”! Assinei a interpelação.

Não foi a Policia Federal do Presidente Lula, investigando a minha vida pregressa como disseram: “Petista de carteirinha”. Um verde fez a intriga e a denúncia. Não concordei com a construção das ruas no Hilda Mandarino. Sem guias e sarjetas escoradas em lei municipal. Quem fez a lei? Essa denuncia é verdadeira, não foi um boato qualquer, foi um fato. É um jogo de vingança que nem o companheiro Dunga me salva.

Em nossa cidade, para ser franco, o verde já desbotou, a conjuntura se altera a cada minuto, o Palmeiras do Consa já foi Periquito verde-bandeira e hoje, porém, não passa de um Porco verde limão. O Greenpeace, esse sim, é verdão. Mas, o vermelho em compensação, vitima de preconceito desfaleceu num tom rosa, e se misturou num arco-íris perfumado, como bode que não fede, e morreu na praia.

Várias vezes, falei da mutilação das arvores urbanas, mas nada é feito. Dizem que na cidade, ninguém liga. Em setembro, no dia da árvore, o 21, três foram eliminadas frente à Praça Jaime de Oliveira com Rua Sergipe. Vivemos numa província onde não se pode denunciar o homem público, e se ninguém ouve, e nada vê como falar desse assunto? E se pombo não fala ninguém fala!(*)

Se tivéssemos, pelo menos, um louco verde do Greenpeace na cidade, o ambientalista Al Gore não teria mordido o Prêmio Nobel da Paz. Pensando ingenuamente, a turma dos “isteites” não alisa. Boa parte do planeta eles poluem com chaminés, e o que sobra, poluem com artilharia pesada detonando suspeitos muçulmanos, despachando-os ao paraíso. Pela ótica do Comitê que o Parlamento da Noruega indicou para escolher o vencedor do Nobel da Paz, bombardeio, tiroteio, fogaréu, barulho de helicópteros e de jato, poeira, extermínio de iraquianos e afegãos é terapia de grupo, um bem para todos os povos.

Hoje em dia, não importa onde você mora, o pedágio federal é um e noventa e nove. No Hilda Mandarino já têm guia, sarjeta, esgoto, energia elétrica, luz na rua e asfalto. Por isso eu fiquei preocupado com o boato que espalharam pela cidade. O Renan está bombando. O Lula não é o pai dele, e nem está no mundo para protegê-lo. E quem sou eu para explicar o que está acontecendo? Estou chiando porque fui traído, uma denuncia dessas pode transformar um comunista em pefelista arrependido, um demônio. Pior, tem companheiro que quer fazer feijoada com a minha orelha, não sou Porco, sou corintiano, e não vi nada! Uai!
* Autor desconhecido.
16/10/2007 Ventura Picasso 2196

11.10.07


Ditadura Petista


A professora Elizabeth Nery me obriga a acatar suas palavras como se fossem minhas. A sinceridade que ela demonstra na interpretação do artigo “Ditadura petista” (FR 30/9 e 10/10/2007), nada ingênua, e apesar de criticar delicadamente, não observou a ideológica do articulista, que descrevendo aquela velharia, cita como “bom exemplo” o Figueiredo. O fascista Benito Mussolini, namorado de Hitler, tinha lá seus adeptos.

Lula disse que a CPMF é um imposto justo, se referindo aos dois lados da mesma moeda:
1 - O valor recolhido é pequeno para quem movimenta o próprio salário.
2 - Sendo um imposto, o governo pode fiscalizar qualquer conta bancária. O traficante Juan C. R. Abadia foi preso com milhões de reais enterrados. Se não existisse a CPMF, esse dinheiro estaria escondido sob sigilo bancário em várias agências. Não foi pelo valor da contribuição que ele escondeu os dólares, mas para evitar a ação da polícia.

As denuncias feitas por esse individuo, quase todas, estão sob o olhar da justiça. Ele poderia divulgar a fonte de suas informações, 50000 cargos? Onde? A Polícia Federal diz que valerioduto pagava juiz que favoreceu PSDB-MG em 1998. O PT não estava lá. Zé Dirceu foi cassado com os 300 votos que fizeram Severino Cavalcante, Presidente do Congresso. Foi um escândalo tão grande que Zé Dirceu tem o direito, e vai exigir no Supremo Tribunal a anistia política. Renan (PMDB) tem até BO; Será processado e julgado. Afirmar que Lula não sabia de nada ninguém pode garantir. Porém, o articulista não distingue a existência dos três Poderes e a mídia monopolista.

Executivo, Legislativo e Judiciário:
Como executivo Lula, o melhor presidente que tivemos, tem um pedacinho do governo, o que ele pode fazer? A fome é inadiável, quem convence o estomago há dar um tempo? Quando acorda ele alerta, ao meio-dia ele ronca, no fim da tarde, ele dói. Por isso foi criado o Fome Zero. Hoje são onze milhões de famílias assistidas que os outros governos deixaram ao desemprego. Lembra? Lula herdou dez milhões de desempregados. A pobreza cai ao menor patamar desde 1987 (Iets) Pnad (IBGE). A capacidade industrial bate recorde (FGV). Número de analfabetos no País cai (IBGE). Fundo de Financiamento da Educação Básica (Fundeb); Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci); Farmácia Popular; Luz para todos; Inflação estimada para 2007 em 3,50%; No dia 10/10/2007 o Risco Brasil (EMBI+) estava com 186 pontos básicos, antes do Lula 2600. Aqui, Lula do PT pode interferir ou modificar.

No Poder Legislativo, entenda por Congresso Nacional, Lula não manda, e no Judiciário perdeu uma ação para o ex-prefeito de Campinas (danos morais). Se o Presidente mandasse como pensam, perder um processo na justiça seria burrice, e burro ele não é.

Elizabeth, esse tipo é fanático, preconceituoso e reacionário, pilheriou contra Lula comparando-o a um gari inapto (ofensa a dignidade). Entre os 623 ou os 220 políticos, quantos petistas, quantos garis e quantos advogados foram cassados? Quando no Brasil um doutor desequilibrou a balança comercial ao nosso favor, recolhendo 160 bilhões de reais em nossos cofres? Em Araçatuba, a Edna Flor saiu pela porta dos fundos. Hoje o governo petista é a solução dos nossos problemas sociais.

Implodir a democracia é golpe, é Figueiredo. Hoje o Brasil é a maior potência econômica Latino-Americana, apenas três países, segundo Condoleezza Rice, são fieis aos EUA. É bom ser amigo e parceiro dos vizinhos, até do Fidel, que compra há muito tempo e paga em dia. A banda ideológica reacionária do articulista, ancorada no fascismo, nota-se, há uma truculência própria de quem quer o poder a qualquer preço. Mussolini mandava matar seus opositores e essa força obnubilada nas letras desse artigo, expõe a morbidez política de um sonho. Fora Figueiredo!

Ventura Picasso - 11/10/2007 3216

24.9.07


São Bartolomeu
Folha da Região -
Momento histórico. Os jornais sensacionalistas da colônia, bem como dos arredores, estavam de prontidão. O assessor de imprensa da corte, a qualquer momento, confirmaria o nome da noiva. Após dezoito horas de negociações, os ministros chegaram a um acordo, e foi marcada a data do compromisso, deixando de lado a opinião das correntes políticas e religiosas, colocando dúvidas no futuro dessa união.

A família de Dona Vera Lúcia de Semaneiros, “A Católica” repetia: “O Condado de Capepuxis bem vale uma missa (Salve Maria)”. Arrancou como dote, o controle econômico e político, levando tudo que queria. Por seu lado, a Marquesa Sandra de Capepuxis, huguenote que orava: “Na paz do meu Senhor e meu Deus Jesus Cristo caminho humildemente. Amem!”, inimiga declarada do papa, de judeus e protestantes, indicou a Princesa Fernanda sua filha, para representar o seu povo nessa rica união.

O objetivo de evitar as guerras entre protestantes e católicos era comum. Noite de São Bartolomeu nunca mais. Não se sabe, porém se havia sinceridade, mesmo porque, entre concorrentes fica sempre a interrogação: Será que te enganei ou me enganastes?

No cravo, Wilhelm Friedemann, acompanha o coral: ”Jesus Alegria dos Homens”. As testemunhas e padrinhos do casal, enfileirados, entram e se posicionam frente ao altar mor. A música de Bach se estende aguardando a chegado do padre, mas este esqueceu ou deu o cano. Sobrou para o pastor que não estava muito a fim de dividir a cerimônia com o vigário. Se para um é sacramento e vai até a morte, para o outro vai até o próximo divórcio e uma benção resolve.

As portas da catedral se abrem, a noiva surge deslumbrante. O vestido, o bouquet de rosas brancas, o véu delicado cobria-lhe a cabeça. Caia uma chuva de pétalas brancas perfumadas. No altar, Don João em uniforme de gala aguardava a chegada da noiva.

Don De Rufino entrega a mão da filha a Don João que docemente ergue o véu e revela o lindo rosto da invejada moça. Oh!óóóóóóóóóóóóóóóó! Essa não! A noiva foi trocada!
─ Fomos traídos?
O proclame distribuído em toda região indicava a Princesa Renatinha, porém, presente no altar estava a Princesa Fernanda.

O reverendo não quis saber da troca, convidou os noivos, nomeando-os com clareza:
─Aproximem-se: Princesa Fernanda e Don João Adhemar Benetti!
Empolgado, iniciou o sermão atacando o governo.
─ Depois de tantas negociações, por mais de dezoito horas para decidir quem faria a parceria com Don João Adhemar, os senhores têm a coragem de me dizer que foi o tipógrafo que montou o anuncio errado? Vou coletar assinaturas e exigir uma CPI já!

Ventura Picasso - 24/09/2007 - Folha da Região 03/10/2007 2168

14.9.07



O Fantasma da Ópera
Folha da Região
Ultimamente, como não tenho recebido a Agenda Cultural mensal, fui ao Teatro Paulo Alcides Jorge, com o intuito de conseguir, pelo menos, um exemplar do cardápio artístico araçatubense. Não encontrando, fui ao conservatório de musica, e lá também não havia. Intrigado, ao sentir que as pessoas não estavam dispostas a falar sobre o teatro, e assim como as palmeiras da Avenida João Arruda Brasil, senti também um friozinho na barriga, um calafrio e hipnotizado, amedrontado sem saber, acabei dentro do teatro.

O coração fazendo marcação como os tambores da Escola de Samba de Mangueira em cerimônia fúnebre. Escuridão total. Liguei a chave das luzes, desliguei, religuei e nada de luz. Imaginei como se sentiu La Carlotta quando abandonou, no palco, a peça “O Fantasma da Ópera”. Aquele teatro era particular, o nosso é do município. Christine Daae só dominou o palco com a ajuda de um elemento misterioso.

Aqui, porém não há mistério, e o fantasma perde tempo porque quem manda, manda mesmo, e assusta até assombração. Há uma triste realidade: o poder político ofusca a liberdade e a estética artística e cultural, provocando em nossa cidade a fuga das palmeiras do Mercadão. O Mané Motosserra está afiando os dentes para deitar as infelizes, como faz na porta das lojas; ataca as árvores, rebaixa as guias e colabora com idiotas que seduzem consumistas cegos e insensíveis com o ecossistema. Vale mais uma placa de propaganda do que a nossa amiga árvore.

Há na cidade o Partido Verde, mas não é um verde ecologicamente correto, esse verde serve para legalizar candidatos a cargos eletivos. A lei exige que o candidato seja filiado a um partido. Até hoje eu não vi sequer uma única manifestação pública em defesa da ecologia urbana defendida pelos nossos verdes. Cá entre nós, os políticos verdes não estão nem aí com a luz do palco, quanto mais com as Palmeiras Imperiais que estão no corredor da morte.

A cultura educa, e as pessoas adquirem um senso crítico de boa qualidade, pensam e interpretam a má intenção dos administradores, e certamente, o governo do município não quer saber de educar eleitor, mas investir na contracultura descaradamente. Querem corpos transportadores de cabeças condicionadas sem condições de optar. As luzes não acendem, a cultura come de graça no boteco da praça, as arvores da avenida, não se mexem apenas, já estão fugindo da cidade cheia de leis esburacadas que o Estado não obedece.
Às vezes quero crer mas não consigo. / é tudo uma total insensatez. / aí pergunto a Deus: escute amigo, / se foi pra desfazer, por que é que fez? (toquinho).


Ventura Picasso 2165

3.9.07

Bilhete de Viagem
Folha da Região

Levantei cedo, o sol surgindo lá pelas bandas do Baguaçu, preocupado em agendar uma passagem gratuita para São Paulo. Sou aposentado e não abro mão dos meus direitos. Calcei os sapatos, juntei os documentos, o guarda-chuva e ao abrir a porta, adivinhem o que encontrei? Um Pit Bull estacionado na soleira da minha porta esparramado, dormindo e ressonando sobre o meu capacho, ocupando o vão da porta, de um lado ao outro.

A cinco passos, a jovem proprietária do animal, não confunda, eu falo do Pit Bull e não do Edmundo.
─ Não há perigo, a cachorra é mansinha, diz a garota.
─ Mas, é um Pit Bull. Ela é deficiente ou renunciou a cidadania?
─ Nada disso, não tem perigo, ela deve acordar por si caso contrário fica irritadíssima.
─ Quer dizer que eu não posso sair da minha casa?
─ Tenha paciência, ela acorda logo.
Acordou, me olhou levou um susto e saiu de fininho.

Atrasado, cheguei à rodoviária e pedi a passagem.
─ Para dia 5/8 não tem! Se puder pagar R$33,80, tem.
─ Posso, só não posso perder o casamento da Renata Rufino.
─ Trouxe o documento do INSS?
─ Eis aqui o comprovante de rendimentos do Imposto de Renda.
─ Esse não serve.
─ Como não serve menina?

O superior da agência saiu da toca e veio de dedo em riste:
─ Para comprovar que é aposentado é preciso trazer uma declaração.
─ Declaração? E onde eu consigo isso?
─ No INSS uái; concluiu a moça bilheteira.
Voltando, contrariado a procura do documento, sendo brasileiro não desisto, nem que o chefe da seção pedisse certidão de nascimento do meu tataravô, carteirinha de sócio do Corinthians de 1954, certidão de batismo e de boa conduta assinada pelo Papa, atestado de residência do Sumaré na Antonio Lino com a Rio de Janeiro ao lado da barricada do prefeito etc.

Como em toda fêmea, vez que outra, a TPM pode atacar e eu, com esta cara faço o que para encarar o mau humor dessa cadela? Vou à luta entro se preciso for com tropa de choque. Em casa joguei o Estatuto do Idoso no lixo. Não ouvi dizer que um velhote tenha levado vantagem com essa partitura. Telefonando à Folha da Região relatei a fato, e a Grazi exclamou: ─ Putzzzzzzzz! Na internet fiz o download da folha do último salário e toquei a pé para o balcão da Reunidas.

Lá chegando fui atendido por outro bilheteiro. Não fez questão de nada, emitiu a passagem, paguei meia e com cara de bobo guardei a papelada saindo em direção ao kibutz imaginando como seria recepcionado pelo Pit Bull. Quem me recepcionou foi o síndico, Silvinho sabonete, que dá um jeitinho em tudo, tricotando com André que outro dia, eu havia pisado no cocosão do Basset. Pois é, com o bilhete de viagem do idoso no bolso, enquanto aguardo a diligência, o Pit Bull dorme na cama da vizinha.

2222
Ventura Picasso

22.8.07


Galo da Madrugada
Folha da Região -28/08/2007

Faz três noites / Que eu não durmo / Lá, lá... / Pois perdi o meu galinho / Oh lá, lá... Pobrezinho / Lá, lá... / Coitadinho / Lá, lá... / Ele faz / Quiri, qui, qui...

Estava fazendo uma dessas crônicas inúteis que o jornal não publica, mesmo por que, certos assuntos são impróprios aos eleitores. Como escrever que é vergonhoso ver o ano inteiro, nos muros, nas paredes e nos carros o nome de um demagogo, que transgride as leis da publicidade eleitoral? Mesmo não calando, convivo com esse lixo. Não posso dormir com essa trava na consciência. O galo canta, mas ignoro...

Cansamos!

Vivendo e trabalhando no “conforto” do lar, pré-depressivo, dormindo da zero hora as 4h30; de repente, sou atropelado pelo canto de um galo às 4 da madrugada. Milhões de decibéis invadem-me, os vidros trepidam, um terremoto de 12° na escala aberta de Ritcher. Tento dormir, mas não me livro da diarista, do Galo Doido, da Xaxa, do Basset, da Lady, do Francis etc.

Galo pode cantar de madrugada? Aqui no kibutz não pode, mas como quem malha o Lula, ele repete e manda a dose das 5h Acordei! O cantador de hora certa, pela explosão pulmonar, seria grande como um avestruz. Ou uma avestruz cantando como galo? Dia seguinte o barulhoso mudou-se, foi cantar no alto da barricada lá na Rua Rio de Janeiro com Antonio Lino.

Fazendo café bem cedo, abri a porta do kit para respirar, dou de cara com a Xaxa (Pinscher). Não é a filha da Xuxa é da Roberta. Educada e bem vestida possui um guarda roupa Benetton. Sempre é bem recebida, só entra em casa se convidada.

Francis, Schnauzer recém chegado à comunidade, late e denuncia quem mora ou passa pela rua, mas não faz nada. Parece aquele vereador que se acha, fiscaliza o governo federal, mas aqui não faz nada. Esse cão radical, em breve, mudará de opinião.

O Basset aloprado ninguém segura. Entrou e não percebi. O japa assobiando chegou à porta perguntando pelo cãozinho. Nisso o bicho aparece, saindo do banheiro derrapando, espeloteado, derrubando tudo, sumiu. Fui ao banheiro encontrei a Lady dormindo e um cocosão no tapete que o Basset do japonês me contemplou.

Espantei a Lady, e ela nem ligou, deu uma olhada indiferente, mediu-me, recostou-se e continuou fazendo a sua sesta. Cantando: ”Atirei um pau no gato, to...”, enchi a lata d’água, chamei-a novamente, mas ela... Nada! Irado, não tendo galo, cachorro ou gato, arremessei a água acertando em cheio a gatinha folgada. Como um raio ela voou em sentido contrário ao que eu imaginara, passou-me entre as pernas, e por sobre o muro desapareceu.

À noite, o vizinho voltando do trabalho, bateu na minha porta: ”Toc, toc,”.
Pois não?
─ Viu a Lady?
NÃO! Só vi o galo.

Ventura Picasso - 21/08/2007
2202
MAQUIAVEL
(O titulo não é plágio)
Folha de Região

Na Folha da Região, a coluna “Ponto Cego” de 08/07/2007, do jornalista, professor e croniqueiro Hélio Consolaro revela, que um grupo de bacanas da cidade, está se reunindo para meter as mãos na cumbuca política da província.

Conheço esse filme. Há pouco tempo um grupo de pastores evangélicos, que de bacana nada tem, fundou a Frente Evangélica. Foi sugerido o nome de Frente Cristã, assim caberia o papa, o padre e o resto da paróquia. Mas, aqui na cidade, Frente Fria é a única coisa boa que entra, e todo mundo apóia.

Com muita antecedência, estabelece-se, a luta pelo poder. De um lado, os sociólogos donos da razão, conhecedores dos fatos. Do outro, os filósofos detentores da verdade e da idéia. Ambos querem comprovar a posse do que é verdadeiro (suas promessas?). Mas, quem pode acreditar nesse verdadeiro? A disputa entre os grupos é a única verdade aparente, mesmo porque, ambos querem eleger o prefeito. Tolos, lutam pelo poder, supostamente maior.

Neste caso, a ambição e a vaidade impedem a aproximação do filosofo da realidade social. No mesmo universo, o sociólogo é impedido de interpretar suas experiências. É fácil deduzir que, o padre e os pastores são especialistas em religiões. E os cientistas sociais, hábeis em teoria e pesquisa. Na terceira via o grupo de bacanas, sonha ganhar a eleição, com um candidato a prefeito que não seja político profissional. Se ninguém é do ramo, isso não passa de piada.

Analisando os problemas políticos de nossa terra, sei que o cargo de prefeito seria muito importante se os vereadores dedicassem vinte e quatro horas do dia, às leis e fiscalização dos atos do prefeito. Vereadores com bons salários, alguns aparecem uma vez por semana para marcar presença na seção. Portanto, esses grupos que se organizam visando as eleições de 2008, se bem intencionados, provocariam a substituição dos integrantes da Câmara. Mas, porque estão de olho no cargo de prefeito?

Há muito que fazer na casa de leis: Cargos de confiança sem concurso; seis assessores por gabinete; vereador empregando a família inteira é nepotismo descarado; o prédio da Câmara é luxuosíssimo; cidade é suja, ruas esburacadas, abandono da educação de transito para ciclistas, Daea (?), devolução do SAMU etc.

Entre teses, missas e cultos, todos efetivamente ingênuos, que conforme Hélio Consolaro alertou, não estudaram Niccolò Machiavelli. Se o fizessem, encontrariam mais de vinte teorias para interpretar Maquiavel, magnífico filosofo, que na verdade escrevia para os príncipes e as repúblicas praticarem. Caro leitor, a terra do boi precisa de bons vereadores para dirigir um prefeito.
12/07/2007 - Ventura Picasso
2218

4.7.07


APOSENTADOS TRAÍDOS?
Folha da Região -
30-06-2007

Quando a Assembléia Legislativa, com maioria do governo aprovou a emenda aglutinativa ao PLC 30/2005, que trata da “reorganização” do Sistema de Previdência Pública (SPPrev), provocou um choque, não de gestão, mas emocional tirando a tranqüilidade dos servidores aposentados, que se mobilizaram para defender, apenas a participação, mesmo correndo riscos, na direção executiva do novo sistema. A legislação federal indica para essas diretorias, a reunião de representantes do governo, dos servidores ativos e aposentados organizados. O governador, só aceita como parceiros, funcionários públicos de sua confiança e por isso, alguns leitores perguntaram:

─ E agora, o que vai acontecer?
Não tive resposta; não sei, nem o governador de plantão o sabe. Esperei até agora, aguardando uma ação magnânima dos deputados do governo, mas nada. Desumanos, não incorporaram uma cultura solidária e social que o nosso povo merece. Enquanto existirem entre nós ONG’s distraindo idosos, Centros de Defesa dos Direitos Humanos, Estatuto dos Idosos etc. nunca tão eficazes e eficientes, como as associações protetoras dos animais, infelizmente, nossa conjuntura se resumirá, a essa democracia de grupelhos.
No Brasil os trabalhadores com registro em carteira, nos cargos públicos ou privados, o desconto previdenciário é automático e obrigatório. Se bem administrado esse sistema poderia ser o maior e melhor clube de seguridade social do mundo. A tucanagem quer privatizar o sistema, do contrário respeitariam os milhões de associados, mas falta-lhes vontade e competência.

Trecho da declaração de voto do Deputado Roberto Felício, pela Bancada do Partido dos Trabalhadores, contra o PLC nº. 30: “Quero chamar a atenção dos líderes desta Casa de que não basta nas regiões fazerem o discurso da defesa dos servidores públicos, de que não basta na região, dialogando com o professor lá da sua cidade, com o trabalhador da saúde, dizer que gosta dos servidores, que defende os serviços públicos, que a mamãe foi professora, que o tio já foi enfermeiro e por aí afora e agora se somar ao Governo do Estado, assinando a emenda aglutinativa do Governador. Quero chamar a atenção dos presentes, os líderes que rubricaram a proposta do Governo aqui: não adianta irem para a sua cidade, para a sua região e jurarem de pés juntos que gostam dos servidores públicos. Os senhores estão assinando o documento que trai a causa do serviço público no Estado de São Paulo, uma assinatura que trai o desejo de resolver os problemas da educação, o problema da saúde, o problema do transporte, o problema, enfim, daquilo que afeta não apenas o interesse do servidor público mas o conjunto dos 40 milhões de brasileiros que vivem neste território, o Estado de São Paulo”.

A injustiça zunindo nos ouvidos dos aposentados, inconformados, sabendo que não há interesse do governo em atender qualquer reivindicação, heroicamente, se mobilizam. Por ser uma categoria improdutiva, diante de um governo neoliberal, essa advertência trágica, para os governantes, não passa de comédia. Os departamentos do estado dessa área, estão preocupados com os índices da probabilidade de vida que resta a cada idoso. Essa pesquisa interessa às agências funerárias, e não aos aposentados traídos, impelidos ao novo SPPrev.

Ventura Picasso: Coordenador do Grupo Experimental da AAL – junho/30/2007
2774

12.4.07


GRATIDÃO

Em várias oportunidades a ex-candidata à prefeita Drª. Edna Flor, em entrevistas ou na coluna Periscópio do jornal Folha da Região, aparece fazendo declarações contrárias ao seu discurso preferido em defesa da ética na política.

Não é verdade que o Partido dos Trabalhadores-PT, tenha feito qualquer dívida na última eleição municipal. O PT não disputa eleições, mas sim os seus candidatos. A ex-candidata obteve em seu nome um CNPJ, assim como uma conta corrente bancária exigida em lei, garantindo a ela o direito de disputar, desde que assumisse todas as responsabilidades previstas na legislação.

O Partido dos Trabalhadores-PT ajudou a ex-candidata no que foi possível. Terminada as eleições, quando do fechamento das contas de campanha, a coordenação, escolhida por ela, composta por pessoas da sua máxima confiança, só conseguiu a aprovação das tais contas no Cartório Eleitoral porque o Dr. Fernando Zar, tesoureiro do Diretório Municipal do PT de Araçatuba, gentilmente, e confiando na ex-candidata, trocou a coleção de cheques sem fundos que foram utilizados por ela na campanha para pagamento de infelizes fornecedores, por cheques do Diretório Municipal.

A troca dos cheques foi o primeiro passo para livrar-se das dívidas. O segundo foi à saída do partido. Essa foi, portanto, a gratidão ética, solidária e moral que deixou como paga ao companheiro. Convenhamos que fosse difícil para a ex-candidata continuar no PT, principalmente, se ela não tinha a menor intenção de, pelo menos, ajudar a pagar o que gastou.

Trata-se, pois de uma campanha política comandada por ela e por seus coordenadores, incompetentes e imprudentes que nos deixa lições caríssimas, exigindo de todos os eleitores do PT uma única reflexão:
Terminada as eleições municipais, se a ex-candidata fosse vencedora, como iria pagar essa dívida, por acaso, pensava em vender a prefeitura?

Ventura Picasso: Coordenador da Campanha Municipal do PT de 2000; Coordenador do Grupo Amigos Solidários do PT de 2004. (1703)

19.3.07


Chiqueiro e impunidade
Folha da Região - 09/03/2007
Aceitar a redução da idade penal é uma providência imediata e reformista. O controle da criminalidade não passa pela idade do infrator. Passa antes, pela falta de uma legislação especial que colocasse o jovem criminoso a disposição da justiça até atingir os dezoito anos, para logo após, ser processado, julgado, condenado ou absolvido. É bom lembrar, que a maioria dos centros de recuperação é na verdade, o vestibular para o menino (a) atingir um grau superior no mundo do crime.

O debate sobre a morte de João Hélio, não explica como ele ficou preso no cinto de segurança. É preciso juntar todos os detalhes e usar as leis disponíveis, para punir os envolvidos. Possivelmente, vereador Arlindo Araújo, a Lei de Anistia que foi aceita pelos ministros durante a abertura política, ao fim da ditadura, bem como os meios de comunicações, a serviço dos generais, alardeavam que cadeia para os golpistas seria revanchismo. A justiça, os meios de comunicações e o Congresso desde 1979, ao evitar esse tema, são os responsáveis pela falência do sistema judiciário. Na época, em minha opinião, a justiça não cumpriu o seu papel anulando a Lei da Anistia, e colocando os criminosos na cadeia. Hoje a nossa história seria outra.

Querer passar ao presidente Lula a responsabilidade plena pelo atual estagio da Segurança Pública, é ignorar que ele assumiu o país quebrado. Em 2003 o retrato do caos: Risco Brasil médio entre 600 e 2500 pontos; Inflação de 15% a.a.; Dólar a R$4,00; Devendo 15 bilhões ao FMI. Nem assim, não se pode comparar o Congresso Nacional a um chiqueiro. Essa revista britânica que o vereador cita “The Economist”, não tem o direito de afirmar: ─ Brasil falha em ‘limpar o chiqueiro’ do Congresso.

Agora, vereador Arlindo Araújo, eu lhe pergunto: Como legislador e representante eleito pelo povo, quantas reuniões sobre Segurança Pública foram articuladas pelo senhor no Alvorada, São José, Morada dos Nobres ou na Chácara Arco-Íris para discutir, ouvir e encaminhar propostas para as Secretarias de Segurança, ao Ministro da Justiça e a outros especialistas da área. O senhor também é responsável, é seu dever provocar o debate, uma vez que a população espera uma atitude política, criativa e factível. A delinqüência nasce onde o vereador trabalha, e ele, só não vê se não for lá.

O combate a criminalidade, passa pela educação-formação e não pela Progressão Continuada (automática), fábrica de delinqüentes; O Governo Lula combate o desemprego. Hoje há espaço e condições para os investidores confiarem no país. Para isso, o presidente colocou o Risco Brasil na média de 200 pontos; A inflação, de fato, estabilizada; O dólar sob controle; Pagou as dívidas com o FMI, herança maldita de FHC; E a dívida externa em queda. Esses dados aparecem nas estatísticas do “The Economist” magazine de direita, revista conservadora, que o vereador gosta de ler. Os reformistas querem maquiar, o governo quer modificar essa realidade que matou João Hélio.
Ventura Picasso - Coordenador do Grupo dos Pensadores de Araçatuba -
2497



“Princesa de Hollywood”

Desenhando o roteiro desta crônica como se fosse um mosaico, ao juntar os lados do polígono, entendi tristemente que o povo, especialmente a classe media da qual faço parte, aquela que tem acesso a várias mídias está embrutecida, insensível. Na TV, a mulher mais sexy do mundo, estrela do filme ‘O Bom Pastor’ bela, generosa e acolhedora perde em tempo e espaço para programas violentos, grotescos e funestos. A brutalidade transforma a vida e o sonho.

Curiosamente observo de um lado, o enigmático casal Jolie-Pitt e de outro, criminosos de guerra 1963/75, na invasão do Vietnã, do Laos e do Camboja, mas ainda hoje, há os que destroem a Palestina, Iraque e Afeganistão. A história em flashback. Na Indochina ficaram os rastros sangrentos, deixados naquele cenário ocupado por cinco milhões e meio de soldados, um milhão e meio de mortos. Destruíram no Vietnã as principais pontes, usinas elétricas, depósitos de combustíveis, plantações e florestas dizimadas com agente laranja.

- O que significa Maddox? USS Maddox?

Sobrenome comum, marca de game, vídeo pornográfico ou nome de navio? Maddox Chivan Jolie-Pitt é o primeiro filho adotivo do casal Jolie-Pitt, mas não posso afirmar que a escolha do nome tenha uma conotação política excêntrica, um protesto. Melhor seria considerar um engajamento rebelde, uma demonstração ao Pentágono que não é matando os orientais que se encontra a paz. Pax Thien Jolie foi encontrado num orfanato da antiga Saigon, hoje Ho Chi Minh, e é a terceira adoção de Angelina Jolie. Maddox nasceu no Camboja, Zahara Marley na Etiópia e a filha biológica Shiloh na Namíbia, no fundo do mundo.

Os filhos de Brad Pitt e Angelina Jolie, eleita a mais sexy em 2005, e Maddox agora aos seis anos, escolhido como o filho mais bonito de casais famosos. No lar onde habita a Princesa de Hollywood, Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, a beleza estética desse conjunto humano está impregnada no corpo e na alma de todos. Essa imagem interior do casal tem uma explicação simples: O poder bélico e econômico dos EUA é vinculado à miséria do resto do mundo. Angelina Embaixadora da Boa Vontade da ONU sabe que as riquezas dos EUA provem dessa miséria, e luta contra.

A militância política humanitária de Brad Pitt e Angelina Jolie e todas as ações dessa família emocionam. Existem muitas peruas burguesas que morrem de inveja desse voluntarismo. Apesar da mentira USS Maddox pivô da invasão do Vietnã, assim como as armas de destruição de massas no Iraque nem tudo está perdido, a história da vida prática de Angelina e Brad nos enche de esperança, e voltamos a acreditar que é possível uma vida melhor neste mundo.

Ventura Picasso – Coordenador do Grupo Experimental da AAL. 19-03-2007 2226

3.3.07

CORISCO !


Assobiando “Oh Carol”, descia a Porangaba quando alguém gritou o meu nome. Era a Japa que estava no veterinário com a Bia, uma cachorrinha fru-fru, branca como leite, poodle. Cheia de lacinhos coloridos: um palmo de altura, cara de doente, os olhos diziam tudo. Amanheceu jururu, não comeu e com seus gemidos quase inaudíveis, alertava suas dores agudas. Pensaram em carrapatos, mas ao examiná-la, encontraram furúnculos. — É leishmaniose? O médico escolhido a dedo, é dos bons, mas não conheceu Corisco, que não conheceu Bia: — Calma gente, não é nada sério. Em pleno réveillon, o plantão lotado, cachorrada classe média já sabe que após a tempestade vem àquela ressaca, nem injeção de Engove resolve.

Essa cena levou-me aos idos de 1959. Edmundo comprara um disco de 78 rpm, “Oh Carol!”. Corisco um cachorro vira-lata de porte médio, mal encarado, não latia e música para ele, era barulho. Seu olhar parabólico dizia que ali não tinha para ninguém. Certo dia, o encontrei no porão, duro e espumando como sabão de soda. Trivelato era o único que lidava com animais, fazia ferraduras. Enrolei-o num pano e fui ao ferrador. Examinou-o, pegou a garrafa com tisana; encontrou sobre a bigorna uma seringa hipodérmica que parecia uma bomba de encher peneu, carregou até a boca e disparou no quarto traseiro do animal; deu câimbra na orelha direita que estremeceu, enrijeceu e murchou; efeitos colaterais (?): ficou míope e perdeu o faro.

— Muito bão, amanhã o bicho tá bão... Assim falou Trivelato.

Com vinte anos de idade, 1,98m, 110 kg, entre ombros Edmundo tinha mais de metro. Saindo da Rua São Bento, em direção ao Viaduto do Chá dei de cara com ele. Para cumprimentá-lo, fechei a mão e dei-lhe um direto no peito. Ouvi um barulho de cacos quebrados. Abrindo a camisa puxou os restos de um disco de vinil, com um selo verde onde pude ler: “Oh Carol!”. Ele fez uma cara tão feia que aceitei o acordo de pronto:
— PAGO1

Na Casa Bevilaqua comprei dois discos do Neil Sedaka, um para cada um. Edmundo se foi, e eu fui à Sé pegar o busão. Em 31 de dezembro, a Rua Direita em festa, chuva de papéis picados, não se enxergava nada, ainda mais, depois de tanto uísque o controle motor ratiava. Chegando em casa, madrugada alta, apesar de ter bebido algumas observei o jardim florido, a cerca treliça, e em declive o piso vermelhão, era um espelho alisado com cera Recorde.

Entrei, e ao descer a rampa fui emboscado. Não sei de onde saiu Corisco, mas engoliu minha panturrilha. Desequilibrado fui caindo de costas, e num movimento involuntário, o 78 foi fortemente arremessado à parede da área, lá chegando virou pó. Gritei com o cachorro e ele soltou minha perna, me reconhecendo, com as patas no meu peito, abanou o rabo lambeu minha boca, e pensei: ”ainda bem que esse bastardo não é surdo e nem louco”. “Oh Carol!” (?)... Nem pensar!


2398 - 25-01-2006 - Ventura Picasso

24.2.07




CENOTÁFIO

(túmulo vazio)
Houve uma explosão muito próxima a mim, o som não era de uma bomba ou de tiro de revolver. Um som diferente, não foi fora, mas dentro de mim. Estranho, não consigo identificar esse barulho, algo me diz que a explosão foi dentro da minha cabeça. Senti uma energia diferente, um calor rápido e um alívio proporcionado por um silêncio melodioso e uma doce leveza.

Afinal o que está acontecendo? Desembarquei no terminal rodoviário, vindo da periferia mais distante, no fundão do Parque Água Branca. Todo o sábado vou e aos domingos volto numa rotina agradável, como sempre. Tenho orgulho por dominar e ser amado por essa mulher. Amor verdadeiro ou falso? Suburbana, agrícola, mas inigualável.

Na intimidade das carnes, tudo o que ela conhece, e o que ela sabe de mim, provoca e enche o meu ego, me sinto o super-homem. Todos os dias que nos encontramos ela renova as juras de amores, sempre comprovando com atos concretos coisas que o meu intelecto nunca imagina. Não a esqueço um só momento, trago na alma o sonho doce dessa paixão aonde vou, dia e noite.

Relembrando ainda que ao subir a Rua Joaquim Nabuco extravasando confiança, andando firme e bem cadenciado, meus ombros bailavam num luxuoso salão cheio de convidados, mentalmente planejava o que poderia fazer com ela no chão do jardim, amá-la e entendê-la intensamente e dialogando na mesma língua revolucionando o nosso amor todos os sábados até o fim da vida. Ao ajustar os óculos, em minhas mãos senti o cheiro fresco de raiz exalado pelo corpo de Jupira. Fechei os olhos, viajei roçando o rosto no seu colo, lambendo o pescoço levemente arrepiado...

Explodiu!

Por um instante, o tempo de abrir e fechar os olhos eu vi um corpo caído no chão, muita gente em volta, alguém cobria o infeliz e eu, flutuando e assistindo, como numa tela de cinema mudo, num silêncio sepulcral, aquele fato. De um lado, uma caminhonete importada, de outro um defunto, atropelado. Chegaram ao local todas as polícias disponíveis; Após três horas uma ambulância recolhe o cadáver, o carro do IML não veio, está quebrado.

À distância, ao retirarem os jornais que cobriam a vítima, não a reconheci, mas era-me familiar. Aproximei-me daquele cenário mórbido, e observei a pasta com o caderno de anotações, lapiseira, a camiseta preta da sorte, a calça jeans e o sapato. O relógio arrebentado a identidade no chão, sem dúvida, são meus.

Nesta altura, tenho consciência de que sou um fantasma, agora invisível e com certeza, mais um bisbilhoteiro morto sem aviso prévio. Por instinto, não posso concordar, logo agora que a sorte me sorria. Levantei com pé esquerdo, e ainda encontrei um gato torto doidão correndo sem rumo. Sou de Escorpião e Saturno que foi rebaixado e caçado por astrofísicos intolerantes, acentuando a minha astrofobia. Com esse astral não poderia dar outra coisa. O corpo que os policiais estão resgatando é o meu, aqui neste canto sou eu, e aquilo caído no chão foi meu corpo, como amor e sexo, não misturemos. Na ambulância, embarquei na minha invisibilidade, cheio de vantagens, e fui!

Fomos todos para o IML é exigência legal a autopsia. Logo eu que nunca gostei de médico, agora nem reclamar posso. Saberei se o atendimento aqui é igual ao do pediatra da UBS, lá o ‘médico’ atende quinze crianças em quinze minutos, sem dúvida é um vagabundo. E eu aqui, peladinho com uma etiqueta preza ao dedão do pé direito onde está escrito que o individuo José Damasceno, que não é parente de ninguém, nº. 027/06 fora atropelado na Rui Barbosa às 15h.

O legista balbuciando inconformado: ”atropelado na Rui Barbosa... que retardado... deve ser um capiau que nunca veio à cidade”.
No laudo, a causa mortis anotada: “Traumatismo craniano radical”. O documento necroscópico chega às mãos do encarregado para fazer o atestado de óbito:

Atestado

▬ O Senhor José Damasceno, nº. 027/06, foi vítima de atropelamento por um veiculo de grande porte, cabine dupla importado, modelo anti-Lula que lhe causou entre tantas fraturas, um traumatismo exposto no frontal e acima do nariz, ou seja: deu de cara no rótulo da Toyota 4X4. O médico, Doutor José Antônio, ainda possesso por ter expulsado aos gritos um desavisado que reclamara a falta do camburão: “Quem mandou você votar nesse prefeito, seu animal?”. Assinando o documento, ruminava um pensamento: “Esse cara é muito burro, (atropelado na Rui Barbosa?), não agüento tanta ignorância, agora eu vou mesmo, vou mudar pra Bagdad”...

Lendo o laudo por sobre os ombros do doutor, entendi o meu barulho: foi a minha cabeça que explodiu. Agora o meu corpo aqui exposto, pelado e ridiculamente ignorado. Só faltava essa menina flertando, de olho no meu cadáver. Será que ela não tem o que fazer? Atrevida, é a reencarnação dos embalsamadores dos Faraós. Aqueles escravos faziam cada uma com a burguesada morta. A cara dela diz tudo, está mal intencionada, olha onde ela está passando a mão e encostando o rosto. Enquanto vivo essa vaca nunca me deu bola, agora quer sentir o meu cheirinho?

Ufa! Que calor... Ainda bem, apareceram os funcionários para levar o meu corpo. Cuidado meu, o chassi está todo arrebentado e vocês ficam pegando de qualquer jeito? Que é isso, devagar com isso aí, precisa jogar assim nessa caixa suja? Isso se parece mais com capacete de moto-taxista, qualquer um mete a cabeça. Tudo bem: Lá vamos nós. Essa maca está manca, e correndo feito um louco o caixão pode cair! Louco! Cuidado porra! Cuidado!

Falei, esses caras vão acabar com o que sobrou do meu corpo. Eu estava vendo que ia cair, mas esses incompetentes... Quero ver agora como é que eles vão por o corpo nesse caixote, e depois, joga-lo sobre essa maca ordinária. Olha lá, vai cair do outro lado, devia cair sobre o Baianinho Jaburu, é um relapso, esse filho da puta!

Esquisito,

Isso aqui parece instituto de beleza, com mesa de mármore, até que é bem limpo. E a minha roupa? Até quando vou ficar pelado? Aqui só tem mulher, conheço a Norinha é maquiadora. A Zabocão vem com balde, água, sabão e toalha; Agora é banho na certa, até que enfim. Maquiagem não, o que vão pensar lá no Sumaré?

O caixão é muito chique, know-how de última geração, cheio de adicionais, direção, ar, vidros e travas douradas. Quatro funcionários, sendo um bêbado, para encaixotar o gostosão na urna fúnebre. Flores, rendas e gravata; Mas... a cara? Essa cara não é minha! A testa remendada, cheia de base, pó de arroz, vai ser a maior decepção no velório, estou com cara de bicha! Quem é o dono dessa espelunca que não vê isso?

Rumamos ao velório com nota fiscal. Nem defunto pode ser transportado sem nota. O GG fica em cima, quer carimbar as cinco vias do produto, conferir o ICMS para liberar a transportadora. O motorista da Besta, temulento, alcoólicos ela e ele, pois os conheço muito bem. O coitado esteve internado em Tupã onde tomou na cabeça choques que lhe causaram grandes prejuízos, dizem que sarou, mas... Acelerou a Van e saímos finalmente, em direção ao velório. Com certeza, alguém pode estar à espera, quem sabe uma multidão, centenas de coroas, dezenas de jovenzinhas e eu com essa cara.

O camburão segue o caminho planejado desenvolvendo uma velocidade de quem perdeu a hora. Não sei para que tanta pressa se o meu corpo já morreu. Descendo a Baguaçu, Silvestre economiza, desengata e vamos de morro abaixo como enxurrada, ninguém segura. Surge em sentido contrário um caminhão tanque carregado de diesel com nafta, uma bomba com doze pneus carecas. O GG, da nota fiscal, vinha voando para interceptá-lo. Certo de dar um flagrante de combustível adulterado e prestes a alcançá-lo, a viatura do Picolé voava baixo.

Os veículos desembestados, a Besta e o tanque, cada qual de um lado da ponte, quando como mágica, aparece não se sabe de onde, uma cachorrinha vira-latas atravessando de uma calçada à outra. Havia previsão de chuva, uma tormenta com ventos fortes, e já ventava. O bom caminhoneiro para não atropelar o lindo animalzinho, desviou o caminhão para o centro da rua. Silvestre vacilante e sem reflexos, não teve escolha e foi colhido por aquele bólido desgovernado que acertou em cheio a viatura defuntosa. Os carros se enroscaram, os motoristas pularam; E vivos concordaram: Foi o vento! O GG chegando, ofegante, quer a nota: − Que nota, meu? Respondeu-lhe Silvestre sentindo na testa um galo que cocoricava.

Explodiu outra vez,

mas, não como minha cabeça, o caixão magicamente, Copperfield não faria melhor, como num circo foi serrado ao meio virou lenha fogueirosa e o meu defunto ficou mais estragado, torrado como pelego de porco, metido num aperto e esmagado que só sardinha. O teto do carro juntou-se ao assoalho. O fogo tomou conta, e com o sopro do vento as labaredas subiram, e bastaram alguns minutos para que tudo se transformasse em cinzas levadas e espalhadas por uma ventania furiosa soprando em direção ao Baguaçu. Essa morte me surpreendeu que brincadeira, foi uma peça. Sonhava morrer (luchando) num cabaret da Velha Havana (Patrimônio da Humanidade), numa noite louca cantando e bailando com minha índia Jupira, o hino soy loco por ti América: ”Mais apaixonado ainda dentro dos braços da camponesa, guerrilheira/Manequim, ai de mim, nos braços de quem me queira...”. Eu queria se possível, ser cremado após a morte e que alguém jogasse os meus restos mortais na Marina Hemingway, mas não foi possível, o vento se ocupou de encaminhá-las às águas do rio, enfim é o caminho do mar. Sou contra poluição, ao enterrar os mortos no cemitério contaminamos no subsolo o lençol freático, quanto a túmulos, é obrigar os que aqui ficam cuidar da tal ‘última morada’.

Mas, defunto mora?

Os bombeiros, após muito trabalho, puseram fim ao incêndio. O fogo acabou, apagou e agora não tem defunto nem velório. Um enterro sem defunto. Um túmulo sem morto, um cenotáfio? No cemitério, o povo olhoso, e entre estes, os ‘avisados’, o Pai-de-Santo, um Pastor e o Padre com seu breviário de página marcada pronto para me despachar: “Está na hora, portanto, do homem levantar a cabeça e se conscientizar, a morte clínica faz parte do processo integral da vida”. Ele queria dizer que basta estar vivo para passar para uma outra dimensão que é o ponto final.

O motorista acompanhado do chefe da agência funerária reuniu os piadistas e os chorões de plantão na capela do cemitério para explicar: “Não há defunto, o morto queimou, e as cinzas o vento entregou no Rio Baguaçu, mas nem tudo está perdido, sobra uma vaga no túmulo da família para uma outra eventualidade, e a nossa empresa não vai cobrar nada pelo serviço”. E eu estou feliz, primeiro por não ocupar a tal vaga que me foi oferecida naquele mausoléu de luxo e segundo, por não ter seis oportunistas em volta do meu caixão mortoso abalados pelo meu passamento, e por fim, as explosões que me tiraram do mundo, não foram dolorosas. Agora eu não sei aonde vou morar. Aguardem-me, em breve voltarei!

OUT/2006 – Ventura Picasso – 9017
BASE: Texto criado à partir da Oficina Sesc:
“Texto e Imagem: uma experiência criativa” (H. Consolaro & Paulo Brasil)

Vocabulário (neologismos) João Guimarães Rosa – Sagarana, Grande Sertão: Veredas, e de Mia Couto – Moçambicano – Estórias Abensonhadas.


12.2.07


ARAÇATUBA VAI MUDAR!

Numa pequena cidade, a base da oligarquia política alternava-se no poder entre duas famílias. Terminada as eleições desfrutavam das benesses do estado. Seis meses antes da outra eleição, a guerra era declarada. Confirmado os resultados, o candidato que perdia era contemplado com uma faixa na fachada da residência, com a seguinte mensagem:- Vende-se este imóvel, o “fulano de tal”, ex-candidato ‘vai mudar da cidade’.

Atores que participam dos eventos eleitorais, sabem que desfrutamos de uma falsa democracia. O povo, que poderia se interessar pelo assunto, acha que política é para políticos corruptos. Não aceitam esse assunto, e afirmam: - Sou apolítico! O político ‘não muito profissional’ gosta. Candidato caloteiro diz que dívida de campanha não se paga; Vereador pede impeachment do presidente; Vandálico corta placa publicitária, e com dinheiro próprio tapa três buracos nas avenidas; Empresta muleta, cadeira de rodas, fogareiro, doa dentaduras e tome cesta básica etc.

A faixa ‘Araçatuba vai mudar’, anônima, com tempero político, arrepiou a categoria. Escrever o nome no muro e qualificar de avarentos ou ‘eventos’ pode, mas anônima, nem pensar. A prefeitura conserva em seu poder, todos os siglados de PMDB a PD, comissionados e afins, pode fiscalizar quando lhe interessa, e fiscalizou; Na escada, o fiscal arrancou as tais faixas, mesmo porque, Araçatuba não tem para onde ir. Mudar para onde? Poderia aninhar-se nos buracos do Daea. Há buracos naturais, eventuais e institucionais. Buraco chapa branca!

O anônimo dono das faixas da mudança apareceu furioso e foi ter com o fiscal; coisa do diabo:
- Não é nada disso que estão pensando diz o pastor, já temos dois partidos políticos e cinco candidatos a prefeitos.
- Ah! Então pode por a faixa, não sabíamos que se tratava de cristãos.

Como todo mundo acredita em Deus, no caso um pastor que o representa, nem multa foi lavrada. Mas, e a ‘mudança’? Encher um caminhão de “trem veio” é uma coisa, ou como dizem, “partir de esta vida, e pasar a mejor, lo creemos pero, no mucho”. Mudança religiosa, mas a vida é curta, os espíritas dizem que vão e voltam e os, megalômanos, garantem que no Paraíso têm cadeira reservada à direita do Senhor. Querem fazer lá o que fizeram aqui, bajular, na situação.

Nossa vida é feita de sonhos. Em palestra da Natura no Hotel Riviera, o César Faustino perguntou de supetão: - Você sonha?
- Sonho!
-Acordado ou dormindo?
-Nos dois formatos.
-Boa resposta.

Sonhar não é coisa à toa, e se o povo pensar na geografia araçatubense e nos políticos que fazem publicidade ilegal, deixando um olho no passado e outro no gato do lado, ‘Araçatuba vai mudar’.

Ventura Picasso

26.1.07


CRÔNICA
OS DOIS MINISTROS

É evidente que a democracia, no sistema capitalista, e as relações entre os delegados (deputados etc.) eleitos e o poder central, passam pela insuficiência de caráter de alguns, e quase sempre, na periferia, o cidadão comum acredita nas denúncias e nos julgamentos abertos ao publico, pelas mídias, quando das CPIs. Uma quantidade de deputados esperava o ex-Ministro-Chefe da Casa Civil José Dirceu pôr os pés na Câmara, para cassá-lo. Esses deputados, antigos e novos, por acaso, encontrarão uma alternativa política para tirar do ‘buraco da linha amarela’, Alckmin (sumido), e Serra dizendo que a culpa é das construtoras?

Para garantir a pratica democrática, são necessários dois elementos essenciais: Liberdade política e imprensa poderosa. Zé Dirceu foi denunciado por um mentiroso, e Raul Jungmann pelo Ministério Público Federal. Alegando pressão popular, os vendedores de crônicas e notícias duvidosas encarregaram-se de destruir todas as possibilidades de defesa que o Deputado Federal Zé Dirceu do PT, pudesse utilizar, e assim foi cassado sem provas.

Onde estarão os cronistas neste novo momento histórico? Por acaso, no buraco premiado pelo PSDB, ou no escritório do Consórcio ‘Amarelo’ que constrói a linha 4 do Metrô? A contradição nesta historia é que, não ficou claro, se os artigos e crônicas traziam denúncias verdadeiras contra o partido do governo (PT), contra o Presidente Lula e contra o (ex) Deputado.

Enquanto José Dirceu luta na justiça por anistia para restaurar seus direitos políticos, o ex-ministro Raul Jungmann, hoje Deputado reeleito pelo PPS-PE, processado pelo MP, tenta desmentir os procuradores da Republica, onde afirmam na ação de improbidade administrativa que “as provas colhidas revelam de modo claro a existência de uma verdadeira estrutura ilícita, nos moldes de uma quadrilha, destinada a dilapidar o patrimônio do Incra por meio de sucessivos desvios de recursos públicos nos contratos de publicidade”. Nota fiscal falsificada, sem dúvida, é uma fria.

Os maiores formadores de opiniões do país, os mais bem pagos, foram derrotados por Lula do PT. Foi uma luta entre a verdade e a mentira, o concreto e o abstrato, fatos e boatos, manchetes de jornais e revistas contra o programa Bolsa Família, inquestionável, que cobre aproximadamente onze milhões de lares, reduzindo a pobreza e a injustiça social. O eleitor pobre desmentiu tudo, até Arnaldo Jabor. A imprensa está sendo cobrada, se tomar o caminho da imparcialidade, como poderá sobreviver politicamente no buraco Alckmin, Serra e o PSDB?
JOSÉ DIRCEU FOI CASSADO SEM PROVAS. ESSA INJUSTIÇA PRECISA SER REPARADA!
Ventura Picasso

17.1.07




ENTRELINHAS
Bate Forte
Folha da Região


Moro num kibutz, habitação coletiva. Não é uma cooperativa israelense, é quebra-galho nacional. Planejava uma crônica, “O caixa três”. Coisa de candidatos que compram, e não pagam, eleitos ou não, caloteiros. A vizinha do nº. 32 invadiu minha sala, eu de cueca e ela apavorada, aos gritos:
- Meu filho meteu um pregão no pé, por favor, preciso de um médico.

Entrou no Fusca com o cabeçudo enrolado numa toalha.
- Não vou sujar o carro. Sabe onde é?
- Claro que sei.
Fomos ao plantão: eu, a vizinha e o pimpolho no prego. Mas, o caminho não fluía, vira pra cá, pra lá e nada. Ela foi logo solando:
- Não seja teimoso, pare ali e pergunte pro japonês.

O lugar não é estranho, ninguém ligou, há um bando de barrigudinhos, esse moquiço é o Bate Forte!
- Vai logo, diz a mãe aflita.
Entrei no boteco, o tempo parou. Todos em silêncio me encarando. Estático, eu não perguntava e eles não respondiam, até que surgiu um senhor, posso dizer elegante, sendo entrevistado pelo repórter Totonho Caracol; Pede licença, levanta-se e vem.

Passando as duas mãos nas laterais da cabeça, ajeitando os cabelos úmidos de gel, disse:

- Te conheço, Freud; Se és amigo do Consa, é nosso amigo, onde dói?
- Estou com uma criança acidentada e não encontro uma unidade de saúde por perto.

- Muito bem. Onde trabalho tem um pediatra fantástico, não há igual, atende quinze crianças em dez minutos. Urgência é com ele e, virando-se para o jornalista:
- Caracol, vou acompanhar o Freud.
Na calçada, deparando-se com o Fusca interplanetário, refugou:
- Vou com Bicho Grilo, você vem atrás.

Fila grande e na recepção, após toda burocracia indicaram o fim da fila.
- O fim da fila, chorando a mãe protestou.
O abelhudo trazia cravado um prego de vinte e cinco cm. Segurava o tornozelo para não tocar em nada. Não sangrava, não chorava e quem via aquela barbárie virava o rosto.

Surge no corredor, Nozão Dodói arrastando uma perna, raio-X na mão, desancada e com caspa no menisco, quando viu o pé do Manezinho, pimba: desmaiou.

O guri na fila e a desmaiada causaram um sururu danado. Pescoção daqui, pescoção dali, tinha gente querendo quebrar tudo. Por sorte, abrindo a porta de uma sala, o Dr. Duas Caras, que é psicanalista de boêmio gritou:
- Rodada de Benzetacil por conta da casa!
- Oba!!!

O pediatra fantástico chegou ao pé do moleque, de martelo e alicate; não deu um pio, prendeu o prego na pinça, martelou e liquidou.
- Cara bom, afirmou o Dr. DC. Em dez segundos acabou a arruaça. Não falei?
Alivio geral! Manezinho e sua mãe sossegaram. Esqueci o caixa três, os políticos caloteiros e comemorei com a galera a dose grátis. Acabou a bagunça e a unidade voltou ao normal.

Araçatuba, 20/01/2007


3.1.07


CADA MACACO NO SEU GALHO

Folha da Região - Entrelinhas - 05012007

Desculpe Otília, hoje não tem política, tem auto-ajuda. Não leio auto-ajuda por nada, mas nem por isso vou deixar ao desamparo os amigos que buscam um ‘tapinha nas costas’. Partindo da máxima fascista: ”Faça o que eu mando,...”, sinto-me um guru, o GPS dos perdidos, o alarme dos atrasados e a sorte dos azarados. Os homens e suas manias ‘superiores’, não chegam às patinhas de um cão vira latas que nunca perde o rumo, não se atrasa e sempre encontra uma cachorrinha por perto.

Observando o comportamento dos animais selvagens, que fazem do seu habitat um espaço ecológico sagrado, preservando o próprio corpo, mais em favor da vida do que por medo da morte. Persistentes, procuram água e alimentos para saciarem a fome, ao encontrá-los, consomem apenas o necessário, não há exageros, mal estar, dor de cabeça. Nunca vi uma capivara besta, anorética, hiperfágica ou ortoréxica, nem mesmo com TPM.

A inteligência e a sensibilidade do homem nunca chegam perto do instinto animal. Não é preciso imitá-los, ou afirmar que virar sapo seria o ideal. Pode ser que não apareça uma donzela para dar um lado da cama ao batráquio; Dá uma banana; E beijar sapo dá sapinho.

É um mistério a percepção dos bichos aos fenômenos naturais. Muitas pessoas entram em pânico diante da morte, de tremores, tempestades e trovões. Os animais nunca perdem o controle, o contrário, tenho a impressão de que eles se organizam nesses momentos limites, como por encanto, e sem barulho desaparecem. Nós optamos pela depressão.

Os problemas são de quem os cria e convive. Alguns os passam a outros, não assumem as adversidades. É fácil aconselhar a quem abandona a mulher ou é abandonado por ela. Questões profissionais, amor e sexo que na maioria das vezes é mal trabalhada. No trabalho são vítimas da inveja; No amor a traição ou a posse; No sexo a indiferença, e vez que outra, a confusão: Sexo sem amor, amor sem sexo e sexo com amor ou ainda, nem amor nem sexo. Conhecer o animal humano, poucos conhecem.

Na natureza, a utopia anarquista comanda com simplicidade o sistema, que não é ocidental/oriental. O anarquismo em nossa sociedade jamais existirá. O homem é um estranho nesse meio por ser antropófago e incestuoso. No ecossistema não há convenções, religiões ou governos porque cada ser vivo tem uma função pré-estabelecida a ser cumprida, e cumpre.

O planeta vai de mal a pior e como não nos entendemos enquanto superiores, organizados e religiosos que somos. Poderíamos viver na selva, como os macacos cada um no seu galho, respeitando de saída, ao menos, a lei da gravidade? Imitar a natureza é ótimo, “... mas, não façam o que eu faço”! Ih ? Fiz política de auto-ajuda? ? Eh, eh...


Ventura Picasso