19.3.07


Chiqueiro e impunidade
Folha da Região - 09/03/2007
Aceitar a redução da idade penal é uma providência imediata e reformista. O controle da criminalidade não passa pela idade do infrator. Passa antes, pela falta de uma legislação especial que colocasse o jovem criminoso a disposição da justiça até atingir os dezoito anos, para logo após, ser processado, julgado, condenado ou absolvido. É bom lembrar, que a maioria dos centros de recuperação é na verdade, o vestibular para o menino (a) atingir um grau superior no mundo do crime.

O debate sobre a morte de João Hélio, não explica como ele ficou preso no cinto de segurança. É preciso juntar todos os detalhes e usar as leis disponíveis, para punir os envolvidos. Possivelmente, vereador Arlindo Araújo, a Lei de Anistia que foi aceita pelos ministros durante a abertura política, ao fim da ditadura, bem como os meios de comunicações, a serviço dos generais, alardeavam que cadeia para os golpistas seria revanchismo. A justiça, os meios de comunicações e o Congresso desde 1979, ao evitar esse tema, são os responsáveis pela falência do sistema judiciário. Na época, em minha opinião, a justiça não cumpriu o seu papel anulando a Lei da Anistia, e colocando os criminosos na cadeia. Hoje a nossa história seria outra.

Querer passar ao presidente Lula a responsabilidade plena pelo atual estagio da Segurança Pública, é ignorar que ele assumiu o país quebrado. Em 2003 o retrato do caos: Risco Brasil médio entre 600 e 2500 pontos; Inflação de 15% a.a.; Dólar a R$4,00; Devendo 15 bilhões ao FMI. Nem assim, não se pode comparar o Congresso Nacional a um chiqueiro. Essa revista britânica que o vereador cita “The Economist”, não tem o direito de afirmar: ─ Brasil falha em ‘limpar o chiqueiro’ do Congresso.

Agora, vereador Arlindo Araújo, eu lhe pergunto: Como legislador e representante eleito pelo povo, quantas reuniões sobre Segurança Pública foram articuladas pelo senhor no Alvorada, São José, Morada dos Nobres ou na Chácara Arco-Íris para discutir, ouvir e encaminhar propostas para as Secretarias de Segurança, ao Ministro da Justiça e a outros especialistas da área. O senhor também é responsável, é seu dever provocar o debate, uma vez que a população espera uma atitude política, criativa e factível. A delinqüência nasce onde o vereador trabalha, e ele, só não vê se não for lá.

O combate a criminalidade, passa pela educação-formação e não pela Progressão Continuada (automática), fábrica de delinqüentes; O Governo Lula combate o desemprego. Hoje há espaço e condições para os investidores confiarem no país. Para isso, o presidente colocou o Risco Brasil na média de 200 pontos; A inflação, de fato, estabilizada; O dólar sob controle; Pagou as dívidas com o FMI, herança maldita de FHC; E a dívida externa em queda. Esses dados aparecem nas estatísticas do “The Economist” magazine de direita, revista conservadora, que o vereador gosta de ler. Os reformistas querem maquiar, o governo quer modificar essa realidade que matou João Hélio.
Ventura Picasso - Coordenador do Grupo dos Pensadores de Araçatuba -
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“Princesa de Hollywood”

Desenhando o roteiro desta crônica como se fosse um mosaico, ao juntar os lados do polígono, entendi tristemente que o povo, especialmente a classe media da qual faço parte, aquela que tem acesso a várias mídias está embrutecida, insensível. Na TV, a mulher mais sexy do mundo, estrela do filme ‘O Bom Pastor’ bela, generosa e acolhedora perde em tempo e espaço para programas violentos, grotescos e funestos. A brutalidade transforma a vida e o sonho.

Curiosamente observo de um lado, o enigmático casal Jolie-Pitt e de outro, criminosos de guerra 1963/75, na invasão do Vietnã, do Laos e do Camboja, mas ainda hoje, há os que destroem a Palestina, Iraque e Afeganistão. A história em flashback. Na Indochina ficaram os rastros sangrentos, deixados naquele cenário ocupado por cinco milhões e meio de soldados, um milhão e meio de mortos. Destruíram no Vietnã as principais pontes, usinas elétricas, depósitos de combustíveis, plantações e florestas dizimadas com agente laranja.

- O que significa Maddox? USS Maddox?

Sobrenome comum, marca de game, vídeo pornográfico ou nome de navio? Maddox Chivan Jolie-Pitt é o primeiro filho adotivo do casal Jolie-Pitt, mas não posso afirmar que a escolha do nome tenha uma conotação política excêntrica, um protesto. Melhor seria considerar um engajamento rebelde, uma demonstração ao Pentágono que não é matando os orientais que se encontra a paz. Pax Thien Jolie foi encontrado num orfanato da antiga Saigon, hoje Ho Chi Minh, e é a terceira adoção de Angelina Jolie. Maddox nasceu no Camboja, Zahara Marley na Etiópia e a filha biológica Shiloh na Namíbia, no fundo do mundo.

Os filhos de Brad Pitt e Angelina Jolie, eleita a mais sexy em 2005, e Maddox agora aos seis anos, escolhido como o filho mais bonito de casais famosos. No lar onde habita a Princesa de Hollywood, Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, a beleza estética desse conjunto humano está impregnada no corpo e na alma de todos. Essa imagem interior do casal tem uma explicação simples: O poder bélico e econômico dos EUA é vinculado à miséria do resto do mundo. Angelina Embaixadora da Boa Vontade da ONU sabe que as riquezas dos EUA provem dessa miséria, e luta contra.

A militância política humanitária de Brad Pitt e Angelina Jolie e todas as ações dessa família emocionam. Existem muitas peruas burguesas que morrem de inveja desse voluntarismo. Apesar da mentira USS Maddox pivô da invasão do Vietnã, assim como as armas de destruição de massas no Iraque nem tudo está perdido, a história da vida prática de Angelina e Brad nos enche de esperança, e voltamos a acreditar que é possível uma vida melhor neste mundo.

Ventura Picasso – Coordenador do Grupo Experimental da AAL. 19-03-2007 2226

3.3.07

CORISCO !


Assobiando “Oh Carol”, descia a Porangaba quando alguém gritou o meu nome. Era a Japa que estava no veterinário com a Bia, uma cachorrinha fru-fru, branca como leite, poodle. Cheia de lacinhos coloridos: um palmo de altura, cara de doente, os olhos diziam tudo. Amanheceu jururu, não comeu e com seus gemidos quase inaudíveis, alertava suas dores agudas. Pensaram em carrapatos, mas ao examiná-la, encontraram furúnculos. — É leishmaniose? O médico escolhido a dedo, é dos bons, mas não conheceu Corisco, que não conheceu Bia: — Calma gente, não é nada sério. Em pleno réveillon, o plantão lotado, cachorrada classe média já sabe que após a tempestade vem àquela ressaca, nem injeção de Engove resolve.

Essa cena levou-me aos idos de 1959. Edmundo comprara um disco de 78 rpm, “Oh Carol!”. Corisco um cachorro vira-lata de porte médio, mal encarado, não latia e música para ele, era barulho. Seu olhar parabólico dizia que ali não tinha para ninguém. Certo dia, o encontrei no porão, duro e espumando como sabão de soda. Trivelato era o único que lidava com animais, fazia ferraduras. Enrolei-o num pano e fui ao ferrador. Examinou-o, pegou a garrafa com tisana; encontrou sobre a bigorna uma seringa hipodérmica que parecia uma bomba de encher peneu, carregou até a boca e disparou no quarto traseiro do animal; deu câimbra na orelha direita que estremeceu, enrijeceu e murchou; efeitos colaterais (?): ficou míope e perdeu o faro.

— Muito bão, amanhã o bicho tá bão... Assim falou Trivelato.

Com vinte anos de idade, 1,98m, 110 kg, entre ombros Edmundo tinha mais de metro. Saindo da Rua São Bento, em direção ao Viaduto do Chá dei de cara com ele. Para cumprimentá-lo, fechei a mão e dei-lhe um direto no peito. Ouvi um barulho de cacos quebrados. Abrindo a camisa puxou os restos de um disco de vinil, com um selo verde onde pude ler: “Oh Carol!”. Ele fez uma cara tão feia que aceitei o acordo de pronto:
— PAGO1

Na Casa Bevilaqua comprei dois discos do Neil Sedaka, um para cada um. Edmundo se foi, e eu fui à Sé pegar o busão. Em 31 de dezembro, a Rua Direita em festa, chuva de papéis picados, não se enxergava nada, ainda mais, depois de tanto uísque o controle motor ratiava. Chegando em casa, madrugada alta, apesar de ter bebido algumas observei o jardim florido, a cerca treliça, e em declive o piso vermelhão, era um espelho alisado com cera Recorde.

Entrei, e ao descer a rampa fui emboscado. Não sei de onde saiu Corisco, mas engoliu minha panturrilha. Desequilibrado fui caindo de costas, e num movimento involuntário, o 78 foi fortemente arremessado à parede da área, lá chegando virou pó. Gritei com o cachorro e ele soltou minha perna, me reconhecendo, com as patas no meu peito, abanou o rabo lambeu minha boca, e pensei: ”ainda bem que esse bastardo não é surdo e nem louco”. “Oh Carol!” (?)... Nem pensar!


2398 - 25-01-2006 - Ventura Picasso