15.7.08


SONHO IMPOSSÍVEL
Folha da Região 05072008
Certa vez fui rotulado de ‘plagiador de títulos’. Tratava-se do titulo de uma crônica crítica, uma denúncia. Hoje quero assumir essa qualidade de plagiador. Foi num sonho que tudo aconteceu, um ‘sonho impossível’: Essa agitação dos pré-candidatos a prefeitos criou, em minha imaginação, uma ansiedade que previa uma conjuntura surrealista para o próximo pleito municipal. Sonhei que era o candidato preferido do povo da cidade. Era o “já ganhou” em todas as bocas e guetos.

O financiamento de campanha, a cargo do Estado que distribuía as verbas necessárias, para cada partido. Não existiam candidatos e empresários corruptos. Estavam todos presos em penitenciárias confortáveis, equipadas com trio: telefone, TVA e banda larga. O espanhol da telefônica dividia uma kitinet federal com o carioca Fernandinho.

No meu sonho, os novos vereadores não teriam salário, seriam todos voluntários. Foram suspensos e proibidos todos os cargos de confiança, e a partir desta eleição, só funcionários concursados seriam contratados. As associações de amigos dos bairros seriam administradas por um comitê comunitário. Militante político não poderia pertencer à diretoria ou exercer qualquer função nos clubes esportivos, principalmente no futebol, nas comunicações em rádio, TV e jornais, assim como, nas organizações religiosas. Funcionário público não teria licença remunerada de 90 dias para se dedicar à campanha política.

Mas, a uma determinada altura, o sonho começou a se transformar em pesadelo. Lá pelas tantas, rompendo a madrugada, com esse frio o colchão deforma o meu corpo, saí do buraco e me acomodei. Na penumbra o silêncio é companheiro dos répteis peçonhentos que não emitem sons. Iluminando o ambiente, o clarão do amanhecer passa pelas frestas da veneziana, registrando no quarto a presença de uma cascavel.

Aqui na província nas campanhas eleitorais, como animais, as cartas anônimas cassam suas vítimas. Com certeza, estava a caminho uma denuncia pessoal e escabrosa, contra mim. Não foi por carta. No meu sonho, o aviso veio em forma de serpente, mas não como a de Adão e Eva. Era, pois, uma cascavel para impedir a mordida na maçã. Isso mesmo, depois de vinte anos de namoro, aparece essa cobra e aconselha minha namorada a trocar de noivo garantindo ainda, que lhe conseguiria coisa melhor, e disse:
─ Você já imaginou o que pode acontecer, após o seu casamento, se esse ateu vencer as eleições?
Lá fora, alguém preparava uma fogueira. O ofídio, cão da inquisição, estava a fim de queimar meu pé. Que ‘sonho impossível’! Acordei com cheiro de queimado. Ufa! Eleições? Nunca mais!

2201 – Ventura Picasso – 02072008

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