9.8.08



Conflito de Gerações
Entrevista no ig 01082008



Tem certeza de que careta era seu pai? Cuidado, você pode se surpreender... Daiane Parno

Mais e mais homens admitem ser mais exigentes com os próprios filhos, que muitas vezes vão buscar refúgio da caretice no colo dos... avós. É, amigão, um golpe e tanto para quem um dia jurou não acreditar em ninguém “com mais de 30 anos” e jamais repetir os erros do pai...careta!

Liberdade, ainda que tardia

Todo adolescente sabe que sair de casa sem ouvir um extenso sermão sobre horários e cuidados é quase impossível. A marcação serrada, muitas vezes, é o principal motivo de brigas e discussões.

O aposentado Célio Aparecido Espanhol, de 44 anos, é pai de dois adolescentes e admite que hoje dê menos liberdade aos filhos do que ele tinha quando era jovem. "Na minha época minha mãe mal sabia onde eu estava. Hoje eu levo e vou buscar, mas tudo isso por causa da violência. Quando eu era jovem as coisas eram mais tranqüilas", diz.

E não são apenas os pais quarentões que pegam no pé. O filho mais novo de Márcio Alessandri tem apenas 5 anos, mas ele já avisa: o pequeno Vito vai ter problemas na hora de sair para a balada. "Eu sou meio paranóico. Hoje eu não gosto nem que o Vito vá brincar sozinho na rua", confessa o ilustrador de 34 anos.

Excesso de preocupação + excesso de controle = perigo

Se preocupar com os filhos é normal, o problema é quando os pais exageram na dose. De acordo com a psicóloga Helga Picasso Toth, os celulares e câmeras de segurança em escolas são alguns dos vilões desse conflito. "É possível monitorar os filhos o tempo inteiro. Com isso os jovens acabam crescendo sem autonomia e sem responsabilidade".

"Não há problema em combinar regras e estipular horários, ou pedir para o filho dar uma ligadinha quando chegar a tal lugar. Mas isso é diferente do pai que fica ligando o tempo inteiro no celular. A violência faz parte da nossa realidade e os pais não devem super proteger, mas sim dar base para os filhos conseguirem sobreviver", aconselha.

Sexo e namoro: que complicação!

Falar sobre sexo e entender o comportamento sexual dos filhos nunca foi tarefa fácil para os pais. Até alguns anos, o assunto sequer era abordado pela família, ou então, acabava ficando sob responsabilidade exclusiva da mãe. Agora, não tem mais desculpas e você vai precisar tomar coragem e conversar sobre isso até mesmo com aquela sua filha de 18 anos que em geral é uma gatinha, mas que vira uma leoa enfurecida quando precisa falar de limites!

"Eu nunca fui proibido de fazer nada, mas não tinha muita liberdade. Meus namoros eram bem reservados. Dormir na casa da namorada, como meu filho faz hoje, nem pensar", afirma o técnico em indústria têxtil José Donato Salvi, de 46 anos. Apesar de garantir que tem um diálogo mais aberto com os filhos, confessa que conversar com Francieli, de 18 anos, é bem mais difícil do que os papos que leva com Emerson, de 22. "Normalmente a minha esposa conversa mais com ela, virou uma intermediadora."

Márcio também enfrenta dificuldades nas conversas que tem com a filha Julia, de 12 anos. "A prematuridade com que ela lida com a sexualidade me assusta. Até os 17 anos eu brincava com bonequinhos e hoje ela me diz dos 'pitacos' que dava.”

Mas, aos poucos, os pais estão descobrindo que conversar é a melhor fórmula para resolver esse conflito. "Meu pai não conversava sobre sexo comigo. Às vezes minha mãe comentava alguma coisa, mas só quando via que tudo estava prestes a acontecer. Hoje, apesar de eu ainda sentir vergonha, converso muito mais com a Julia sobre isso", diz Márcio.

Educação: mudando de rumo

Outra cobrança dos tempos modernos enfrentada pelos filhos é em relação aos estudos. Ver o filho formado em uma faculdade é, para muitos pais, a garantia de um futuro melhor. Uma cobrança que, muitos confessam, não existia na época deles. "Eu até tive oportunidade de estudar mais, mas eu não quis, não tinha incentivo. É que antigamente, mesmo sem estudo, se vivia bem", afirma Cláudio.

O ensino superior também foi motivo de conflitos entre Márcio e o pai. "Meu pai nunca chegou a me obrigar, mas sempre ficou reforçando a importância de se ter um diploma", diz. "Hoje eu não me importaria se meus filhos não se formassem. A qualidade das nossas faculdades é tão ruim que pra mim o que importa é que eles tenham interesse e gana. Assim eles vão chegar lá".

Diálogo e intimidade ou a arte de ser pai

Mesmo enfrentando conflitos, os pais cada vez mais estão ganhando espaço na vida e na criação dos filhos. "Antigamente o pai cuidava só do dinheiro, hoje não, ele é muito mais participativo, o que só traz benefícios para os filhos", explica a psicóloga Helga Tóth.

Os conflitos entre gerações são inevitáveis, mas a receita para resolvê-los é sempre a mesma. "Hoje você consegue sentar e conversar com seu filho e isso é um ganho para essa geração, porque eles vão crescendo melhores", acrescenta Helga.

www.estilo.ig.com.br/pais/noticia/2008/08/01/coflito_de_gerações_1488475.html

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