30.4.09


Grito de Greve!

Em 30 de março de 1980, sem duvida, é o marco zero da historia política contemporânea brasileira. Em São Bernardo, a greve dos metalúrgicos que durou 41 dias estabeleceu novos limites entre os trabalhadores, as indústrias nacionais, multinacionais e governo. Os metalúrgicos de São Bernardo, Santo André, Taubaté e Jundiaí, após a indiferença patronal decidem entrar em greve.

Dom Cláudio Hummes, em apoio aos grevistas, abriu todos os salões paroquiais da diocese acolhendo os trabalhadores e suas famílias. O TRT não tem competência para julgar a legalidade da greve. S J do Rio Preto e Jundiaí retornam ao trabalho aceitando 6% de produtividade, sem estabilidade no emprego fixado peto Tribunal Regional do Trabalho. O mesmo acontece em Campinas e São Caetano.

Algumas empresas se dispunham a propor acordos em separado, mas o ‘Grupo dos 14’, da Federação das Indústrias de Estado de S. Paulo, não permitia. Em 17 de abril de 1980 Murilo Macedo, Ministro do Trabalho, decreta intervenção no Sindicato de S. Bernardo e Santo André. Na madrugada de 19/04 prenderam Lula e mais 19 pessoas sem mandado judicial e encaminhados ao Deops.

As prisões se sucedem Luiz Inácio da Silva e mais 12 dirigentes sindicais foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Foram proibidas em S. Bernardo as comemorações do 1º de maio. Os locais de concentração dos grevistas estavam ocupados pela Tropa de Choque.

Dom Cláudio Hummes celebra a missa na Igreja Matriz em comemoração ao Primeiro de Maio. Terminada a missa, mais de 100 mil trabalhadores em passeata, obrigam a polícia a abandonar a Praça da Matriz, o Paço e o Estádio.

Em 09/05, os sindicalistas presos iniciam uma greve de fome exigindo a retomada das negociações e fim da violência policial. Era 11/05, em assembléia os trabalhadores aprovam uma moção para que os dirigentes presos suspendessem a greve de fome. A categoria suspende a greve. Em 20 de maio de 1980 o Deops liberta Lula e os demais dirigentes.

Naquele tempo, os trabalhadores sabiam que ao fim da greve não levariam nada. Mas, entre eles, havia uma consciência tremenda e afirmavam: ”Me ferrei, fui mandado embora sem direitos, mas estou preparado prá outra”.

Perderam algumas batalhas, mas venceram a guerra! Hoje os maiores salários do Brasil estão na região do ABCD.
Valeu...
24042009 Ventura Picasso - Para o Boletim do PT 01/2009
1931




Manifesto de Fundação do PT

Em 21 de abril e 1980, Luiz Inácio da Silva, mais 12 dirigentes sindicais foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional. Essa punição bania da vida sindical, definitivamente, os dirigentes sindicais atingidos.

“Não podemos fazer política no sindicato, vamos fazer política partidária”, (mais ou menos) com essas palavras, Lula informou à sociedade que continuaria sua luta contra a ditadura.

Começamos a discutir a legislação pertinente. Precisávamos de um número de diretórios municipais em cada Estado. E no Brasil exigiam uma quantidade de Estados. Saímos do zero absoluto em busca de um partido de massas.

Muitos companheiros passaram a viajar por todos os cantos do país a procura de pessoas que quisessem fundar o Diretório Municipal em suas cidades.

Chegamos a Araçatuba e encontramos o jornalista Oswaldo Pena. Perguntamos o que fazia? Falou que estava prestes a fundar o PT na cidade. Demos meia volta e deixamos a região.

Tempos depois, soubemos que a (missionária) Maria do Socorro e o jornalista e escritor Donosor Negrão, finalmente fundaram o PT em Araçatuba. Como Socorro encontrou Negrão não sabemos. Ela freqüentava a igreja e ele os bares noturnos.

Naquele tempo escolhíamos os novos filiados que se dispunham a nos ajudar. Não aceitávamos o dono da farmácia, do armazém, do açougue queríamos os operários na direção do PT, fosse onde fosse.

Roque José Ferreira, hoje vereador em Bauru reclamava: “Aqui na cidade não existe metalúrgica; como fundar o PT sem metalúrgicos?” Muitos pensavam como Roque, que o PT, era um partido de metalúrgicos.

A cada tentativa de apresentação da papelada, ao Cartório Eleitoral, e conseqüentes atrasos, gerava uma ansiedade sufocante. Os prazos legais nos atropelavam.

Ainda não confiávamos na ‘Abertura Democrática’. Nossos documentos pessoais eram verdadeiros. Havia a hipótese de perdermos novamente a liberdade e os direitos políticos.

Falou-se, na época, que os documentos que seriam apresentados à Justiça Eleitoral foram roubados. Nunca testemunhamos fato semelhante.

Finalmente, após encontro realizado no Sion de SP em 10 de fevereiro de 1980, foi publicado no Diário Oficial da União em 21 de outubro de 1980, o Manifesto de Fundação do Partido dos Trabalhadores-PT, que nasceu da vontade de independência política dos trabalhadores.

PT – Saudações. Ventura Picasso – Filiado em março de 1981
2023


22.4.09


PT e o governo Cido Sério
Ventura Picasso
Jornal do PT - abril/2009

Fundado em 11/02/82, num ambiente político que acomodava o PCB, PC do B e PSB, não havia motivação para criar mais um partido comunista ou socialista, mas sim um partido dos trabalhadores organizados. E o objetivo principal, segundo os debatedores, que fosse um partido das massas assalariadas. Daí, Partido dos Trabalhadores-PT.

Foi, sem dúvida, o maior acontecimento político do sec. 20. Os erros cometidos pelos partidos de orientação socialista foram evitados no Programa, no Estatuto e no Manifesto do PT. Os avanços nas propostas partidárias superavam as do Partido Comunista Italiano-PCI, até então, considerado o mais moderno do mundo. A chamada mais importante do coletivo consistia em dar ao trabalhador o direito de administrar os bens por eles gerados.

Assim, um bancário de Araçatuba Cido Sério, sindicalizado e politizado segundo as normas do sindicalismo moderno, ingressa na Faculdade Toledo, se forma em direito e, assume a presidência da Afubesp em S. Paulo, logo após, se elege Deputado Estadual e em seguida vence as eleições para prefeito de Araçatuba, derrotando as forças mais conservadoras do Estado de S. Paulo. O operário assume o poder político deste município e nesta semana, presta contas dos CEM dias do novo governo.

A contradição que vitimou os partidos progressistas mais antigos, conforme testemunhei em várias ocasiões transitando na contramão da prática militante. Buscavam nas universidades, voluntários para ingressarem nas fábricas para conscientizar os trabalhadores.

Hoje o PT é um partido de massas. Distribuído no país governando muitos municípios e Estados. Em nossa região, a derrota imposta aos velhos senhores da política é um fato da mais alta importância, inacreditável. Apesar de, pela primeira vez, agregarmos tantos partidos em nossa coligação, sabemos como administrar as diferenças. Há, contudo, algumas barreiras. A democracia petista é vista com desconfiança por parte da sociedade, dos integrantes do governo, e porque não dizer, no próprio partido.

A dificuldade de saber onde somos diferentes. Conviver democraticamente com tantos partidos, superar seus vícios, orientar os nossos comissionados no caminho das liberdades democráticas, como governo, partido e militância, exige nossa atenção permanente em todas as ações de cada cidadão. O governo deve apresentar-se como exemplo de competência administrativa. “O modo petista de governar”.

Entre os grandes projetos apresentados até aqui estão: Licitação das galerias pluviais no Umuarama; Recuperação do reservatório ETA 1; Transferiu o prédio do Hospital Modelo ampliando o Fórum da Comarca de Ata.; Construção do novo centro administrativo do Corpo de Bombeiros; Inclusão de Ata. no PAC; Centro de Distribuição de Álcool BR Distribuidora; Universidade Aberta para Gestores da Educação e Formação Tecnológica; No Hospital da Mulher, mamografia e colonoscopia; PROCON itinerante etc., e por fim a tão esperada licitação para asfaltar, recapear e intensificar os trabalhos de manutenção das vias públicas da cidade. Aqui está uma descrição miúda dos CEM dias de Cido Sério do PT.
Texto original enviado aos editores do Jornal do PT

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5.4.09


DORA!
Ventura Picasso


Sempre soube que é um grande poeta. Faz o que quer das palavras, e o faz sempre, com graça. Não aquela graça mística, mas a que nos faz rir. No livro Experimentânea 6, Editora Somos, encontrei Laerte em Minguante: “Logo ontem que eu estava faminto, um poeta guloso deixou lá no céu um pedacinho da lua. Revoltado, fiz bolinho de chuva e afoguei sua poesia”.

“É Impressão Minha ou Estão Batendo na Porta?” Obra prima de Laerte Silva Junior da Cia. Teatral Um e Outro. Há mais de oito anos escreveu essa peça, mas aguardava a hora para lançá-la. Reunindo os artistas ensaiaram durante nove meses. O tabu ainda existe. Não é fácil escrever, dirigir e apresentar num palco, cobrando ingresso, o tema da pedofilia. Crianças são estupradas por médicos, violentadas nos palácios, ou na periferia entre vítimas da miséria.

No palco, percebemos a coragem para ser mais uma Dora. Todos nós somos Dora. Entramos no teatro pela porta dos fundos invadindo um espaço privado, particular e nos misturamos, para conviver com o silêncio do drama imposto pela violência sexual, e como eles, somos apenas Dora.

As chibatadas é a violência que deixam cicatrizes e marcas profundas todas as vezes que são abusadas. Uma goteira persiste como um martelo criando uma insuportável angustia. É a consciência confusa, é o corpo imundo que não se limpa. È a casa sem portas. A campainha toca, mas não há campainha, pessoas que não distinguem o certo do errado ou a dor do prazer. O telefone chama, mas já não há telefone! Vítimas eternas de uma perversão sádica repassável.

Todas as expressões artísticas trazem um forte conteúdo político e neste caso, Laerte ultrapassa a política e invade o universo filosófico. Busca a verdade. Não denuncia, mas aflito, quer debater a tese com quem puder naquela hora. Dora, lotando a platéia e ocupando o palco, drogada por chocolates, excremento, que destrói a moral, já não entende a realidade.

Sigmund Freud (1856-1934) não se conteve. Lança em 1896, a ‘Teoria da Sedução’ denunciando os efeitos nocivos das imposições sexuais contra crianças (Artigo: Complexo de Édipo e pedofilia de Jacob Bettoni – Folha de SP 14-11-2000). Ele quase foi à falência. Isolado por dois anos perdeu a clientela, mas resistiu. Entre as famílias à sua volta havia a prática comum da pedofilia. Seu pai, Jacob abusava de sua irmã e seu irmão. Sua paciente Emma foi violentada aos 12 anos.

Quando o entregador de pizza chega, a justiça acaba. Num raro lapso de lucidez vejo que “um poeta guloso deixou lá no céu um pedacinho da Lua. Revoltado, fiz bolinho de chuva e afoguei sua poesia.”
Levou Araçatuba ao Festival de Teatro de Pirassununga em 2009.
Vale à pena ver Laerte no teatro.


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