1.9.09


LAMBADA
FOLHA DA REGIÃO - 17092009
Ventura Picasso

Morei numa cidade do interior com quase trinta mil habitantes, porém, nos finais de semana, chegava a receber outras trinta mil de turistas curiosos. Nesses lugares, é normal ou comum, a ostentação. Os vaidosos humanos, revestidos de etiquetas das mais famosas grifes, brilhando como estrelas no firmamento, o ostensor iluminado ficava ‘se achando’, ainda mais quando vinha da capital pra dançar lambada ‘de três’. E tome carrão, motão e triciclão roncando nas alamedas com seus motores turbinados, sem limites ou controles.

Os modelos? Todos. As cores, as mais lindas. Eles saiam da rodovia e entravam na cidade como se estivessem no Spa de Francorchamps, de pé embaixo. A Rua Riachuelo era a reta de chegada. Assim como o Schumacher, eles passavam tirando uma fininha do meu portão. A gente não aplaudia claro, nem vaiava, não dava tempo. A Moët & Chandon, no pódio, não sobrava pro nosso banho.

O prefeito da cidade, José Gasparini, que não era doutor, era ‘amigo’ de todos. Não posso dizer que foi um bom prefeito. No departamento de águas, todos lidavam com água. Era de direita, rico e inimigo do PT. Sempre que nos encontrávamos ele reclamava: Picasso, esses ligeiras do PT que andam com você, me dão um (pt) trabalho. Eles nunca estão contentes com nada.

Mas, o Zé, era esforçado. Queria humanizar a cidade. Sabe companheiro, dizia (me gozando), ninguém consegue segurar o trânsito, aqui ou em outro lugar do Brasil, só existe uma única possibilidade, já testada por mim, de fazer esses ‘pilotos’ cafajestes obedecerem às leis de velocidade urbana: Chama-se ‘quebra molas’. Vou encher a cidade com esses obstáculos, e não vou sinalizar nada!

E continuou:
− Você conhece aquele engenheiro italiano que tem uma Alfa?
− Sei sim, todo engenheiro italiano tem uma Alfa.
− Pois bem, quando fiz o quebra molas em frente à Jatobá, o “carcamanno” vinha voando no Alfa. Ao pressentir que estava no mato sem cachorro, enfiou o pé no breque da ‘máquina’, como dizem os macarrones, a dianteira do fantástico móbile abaixou. Entrou com tudo no obstáculo, saiu sem o bujão do cárter, espalhando óleo pela avenida, o propulsor virou uma caixa de pregos. O Alfa fez um pit stop de dois meses. Enzo hoje, desfila pela cidade a trinta por hora, e certamente, faz splash and go pro resto da vida.

A filosofia do amigo alcaide, era coerente. Se quisessem dançar lambadas, antes, porém, teriam que pular lombadas, uai! O preço do quebra molas não estava na pauta do conselho, mesmo porque, quem mandava era o Zé. Agora uma coisa tem que ficar muito claro: Se fosse caro um quebra molas, sem dúvida, o Zé encheria todas as esquinas da cidade de bons buracos. Se há colesterol bom, deve haver buraco bom; né?

Ventura Picasso – Grupo Experimental - 01092009
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