30.10.09



NEM RAUL SEIXAS
ESCAPOU!

Audiência Pública

Quantos medos cabem numa cabeça de político. O estado de alerta, a defesa imediata quando surpreendido por uma palavra, a resposta curta: − Professora, eu não estava colando!

“Estava esperando alguém escrever”.
Mesmo colando, o edil nega o flagrante.

Falar de luta marcial? Na Câmara? Não! Por favor, na casa de leis, onde se trabalha no campo das idéias, o debate nesse formato?

O discurso moralista e preconceituoso de um político, que usa o manto das imunidades para ofender, desdenhando das críticas e afirmando que não representa uma professora. Isso é como usar a liberdade de expressão para dizer mentiras!

Nós, eu e os seres humanos habitantes deste planeta, acreditamos cegamente na fala improvisada da professora. E se for ‘maluca’, melhor ainda, porque a minha melhor professora, a que mais amei, entre todas, era maluquinha. Quem acredita em político?

Discussão política, não é brigar a socos e pauladas. O medo é uma emoção saudável. Todos os seres humanos têm um tipo de medo. A professora maluca é ‘bacana’, como diz o prefeito; ela subverteu as normas da ‘casa da mãe Joana’, como diz o político. A autodenominada ‘maluca’, perdeu o seu medo e assustou a ‘autoridade’ presente. E agora?

Não somos perfeitos, o político pensa que é, mas é contaminado pelo medo. A vaidade inibe o senso crítico, e ele investe no ridículo. Falta capacidade para respeitar, aí está o medo. Entre nós, ainda existe o clichê: ”O meu direito termina onde começa o seu”. Alguns pensam que só os seus direitos prevalecem. Não se reelegendo onde irá parar: “O meu: Você sabe com que está falando?”.

Sem manipular a redação, a Doutora lembrou Raul Seixas, o cantor preferido dos internos do implodido Carandiru. As mensagens desse cantor contem um tipo de filosofia que não se aprende num curso de Direito.

Nem Raul escapou. O baú das maldades é aberto e nos revela as ‘qualidades’ políticas e o medo do político. O alvo de hoje, trabalhadores do SOSP, presos ou não, a professora, a juíza. Amanhã, a cor, a raça, a opção sexual a ideologia etc. Nos discursos mais elaborados estão os maiores pecados. E isso não cola. O povo de Araçatuba passa, acha graça, mas pede respeito.

Ventura Picasso
1851




8.10.09


“Letras de Chumbo”
FOLHA DA REGIÃO 15102009
VENTURA PICASSO
O caderno Vida da Folha da Região, em 29 de setembro de 2009, trazia em sua agenda na D2: “Noite de autógrafos – Nesta quinta-feira, 1º de outubro, o jornalista Fernando Sávio lança o livro-reportagem Letras de Chumbo – A imprensa na historia de Araçatuba”. Ed. COC 352 pg. R$35,00.

Trabalhei a noite inteira. As letras de chumbo que imaginei, e com as quais sonhei naquela noite, não eram as mesmas do Sávio. Na minha memória estava guardada uma Linotype Mergenthaler, “a oitava maravilha do mundo”. Senti o cheiro, o calor da morte lenta, provocado pelos vapores do chumbo derretido.

Não havia texto, eu escrevia palavras desconexas, encantado, observando cada tipo descendo, como se fosse montanha russa com looping, escorregando e tilintando alegremente para, num salto, abraçar sua vaga na linha das letras de chumbo. Um espetáculo inesquecível. Acordei cansado.

Ansioso, aguardava o dia do lançamento. A nobreza do Vívere Eventi, provocava os meus diabinhos maldosos, indagando como seria o movimento naquele luxo. Acaso encontraria na fila os 25 do “asfalto digno” (?), e o professor sem usina? Não quero saber, quero ser o primeiro a chegar.

Cheguei entre os primeiros, era 19h30’. Aguardando meu autógrafo, abri o livro na página 90. A carta do soldado Tito Cursino e de seu companheiro José dos Santos, vale a grandeza desse projeto gráfico sob a proteção de Chaim Zaher, resumindo em poucas letras, como vivíamos na década de 30. Como é gostoso rever o chumbão impresso naquele papel rústico amarelado. Tempos de crise internacional, mas ‘época da inocência’.

Na missiva, os soldados, por estarem em combate, encarregam o prefeito de avisar o alfaiate etc. (comprem o livro para ler a carta).

Por mim, se não o mais importante, é o mais criativo projeto gráfico, entre tantos outros, que marca o I Centenário de Araçatuba. Um jornalista, professor de jornalismo e de publicidade, demarcando o tempo com notícias de jornais. Sem duvidas é uma força histórica. Coisa para poucos. Não que os repórteres narrem a verdade absoluta, não é por aí. O Fernando selecionou em cada década, as melhores notícias de Araçatuba, veiculadas do primeiro ao último jornal editado em nossa cidade.

Jorge Napoleão Xavier, prefaciando a obra de Sávio: ... “O alvo de seu esforço hercúleo é registrar os fatos e eventos históricos, com metodologia, e não escandalizar.”

Continua: “Os artistas, os cantores, os locutores, os jornalistas, os redatores, os colunistas, os apresentadores, os amigos e os colegas tantos que o livro redescobre e nomeia, que saudades, que emoção!”.

Com livro autografado saí correndo para a Cia. Dos Blogueiros.
Grupo Experimental
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