26.2.10


É O AMOR
por Ricardo Kelmer
Como sou besta para chorar, é claro que ensopei a manga da camisa vendo 2 Filhos de Francisco (direção de Breno Silveira). Sempre me tocam histórias de superação, isso de lutar por um sonho. Não sou fã de música romaneja mas é comovente assistir, passo a passo, a trajetória do artista que apesar das dificuldades não desiste de sua arte. Mas aí a pulga me coça a orelha: e os outros zezés e lucianos por aí?
A dupla do filme conseguiu chegar lá. Antes passaram muita necessidade, engraxando sapato, vendo a mãe chorar porque não tinha comida em casa, perderam um irmão. Palmas, eles merecem. Mas, que diacho, eu não consigo deixar de pensar nos outros. Poizé, todo mundo saindo do cinema cantando feliz e eu, o estraga-prazer, pensando naqueles que lutaram tanto ou até mais e, no entanto, não chegaram lá. E aí?
E aí o quê, é isso mesmo, é a vida, uns chegam e outros não. É, você tem razão, se todos chegassem não caberiam todos no palco. É necessário que a maioria não chegue para que alguns possam chegar. Cruel matemática a do sucesso artístico. Então a vida é injusta? É assim que ela trata seus artistas, aqueles que têm a sagrada missão de divertir e emocionar o povo? O que afinal está errado com a arte? Por que para a grande maioria a arte é um sonho que nasce colorido mas aos poucos se transforma em pesadelo e faz da vida um trágico erro de percurso?
Tenho um palpite. Ele é fruto de tudo que aprendi em minha própria vida, buscando ser escritor num país de não-leitores. Não existe fracasso na arte. Porque a arte, por si só, é a eterna celebração da vida. Aqueles que a vida escolhe para serem artistas têm a missão de fazer arte e pronto. Se conseguirem se sustentar com ela, isso é outra coisa, a arte em si nada tem a ver com isso, não lhe peçam o que não é de sua competência. A maioria dos artistas, de fato, não consegue se sustentar e desiste. Os que conseguem, a maioria abre concessões em seus ideais e assina algum tipo de acordo com a indústria de consumo rápido. Uma parte prossegue a duras penas, sempre maldizendo o sistema e envolta em amargura.
Mas há aqueles que, mesmo com reconhecimento curto e dinheirinho minguado, continuam com sua arte, são felizes e não abrem mão dela - porque não saberiam viver longe de seu grande amor. Jamais terão sua história contada no cinema, mas ela, certamente, é a melhor de todas as histórias. Esses encarnam o verdadeiro espírito artístico: fazer arte pela arte. Esses deram a volta completa na roda da experiência e chegaram. Não ao estrelato, ao panteão luminoso das celebridades - chegaram ao ponto mágico de compreensão onde vida e arte se tornam uma coisa só e o dinheiro e a fama não são mais importantes do que continuar fazendo arte, continuar fazendo, continuar.
Esta crônica é uma homenagem aos que chegaram. Mas é uma homenagem ainda maior aos que chegaram ou chegarão à mais profunda verdade artística, aquela que diz que no final da jornada, lá onde paramos para enxugar o último suor de tantas labutas, nós olhamos para trás e vemos toda a estrada que percorremos. Veja, lá estamos nós, dia após dia, no ônibus, a pé, sacoleiros da esperança a carregar os sonhos de um lado para outro, vendo muitos morrer pelo caminho, arrastando os que sobram, sempre visualizando lá na frente um horizonte de recompensas - horizonte que sempre se revela apenas mais uma estação na difícil viagem.
Nós olhamos para trás e entendemos que, apesar de tudo, valeu a pena sim, que mesmo devendo o aluguel, não devemos a alma. Que mesmo sem saber como seria o dia seguinte, nós cumprimos nosso destino. Por amor à arte. Que no fundo é o mesmo amor à vida.
É o amor.
Ricardo Kelmer é escritor e roteirista.

A crônica, do escritor Ricardo Kelmer, foi adotada pelo Alberico para servir de mote ao seu ideal cultural.
"Parabéns, Ricardo. Com esta crônica, você engrandece e imortalizatodos os heróis anônimos" - Alberico

http://www.albericorodrigues.com.br/indice2.htm

Situado num dos melhores núcleos culturais da cidade, este Centro Cultural - com o Muro Literário do Alberico, os bustos de Homero, Camões e Machado de Assis dispostos nas entradas - prova que esse professor sabe como transformar sonho em realidade.
Hoje, a casa já é ponto de encontro de artistas, escritores, poetas, professores e daqueles que simplesmente gostam de ler jornais, revistas e consultar bons livros, enquanto saboreiam um delicioso cappuccino ou um café expresso cremoso.
E como diz o próprio Alberico:
"Bem-vindos sejam ao Espaço Cultural Alberico Rodrigues"

23.2.10


Reino dos Democratas
VENTURA PICASSO

Quando por qualquer motivo alguém clica o nome do senador Marco Antônio de Oliveira Maciel, certamente, é hora de trocar o nome do partido. De Brasília, capital federal que tem governador e não deveria, até a “paulicéia desvairada, a nova chuíça, capital nacional da privataria” do prefeito Kassab do DEM, a comissão de frente faz a introdução: Agora, só trocando o nome do DEM.

Mudar o nome do partido é a solução técnica, para manter o ânimo e a moral na competição eleitoral. Como explicar o desarranjo visceral que acomete os grandes oradores da oposição no Congresso Nacional? Não me refiro a Marco Maciel que, quieto e calado, mudou o nome da ARENA para PDS. Abandonando o PDS, bandeou e liquidou o PFL mudando o nome da agremiação para Democratas DEM, mas sempre fiel aos princípios arenosos. E agora, Mané?

A vida de Maciel não esta fácil. Corre o risco de morrer abraçado. Livrando-se de José Roberto Arruda (DEM), governador de Brasília, do governador interino Paulo Otávio (DEM), resta-lhe ainda, o prefeito Gilberto Kassab (DEM), da capital paulista.

Que saudades de Pernambuco quando foi deputado, governador biônico, senador da república e vice-presidente do Brasil. Temos memória curta, mas Maciel, que ninguém lembra, foi vice-presidente de 1995 a 2002. Sabe de quem? Do farol de Alexandria (PHA).

Carregar esse fardo em 2010 dói muito. A consciência dói pra caramba. Irreverentes, não souberam conter a ambição. A vaidade política detonou a moral dos militantes do DEM e, ao assumirem cargos executivos, arrasaram o discurso ensaiado, não só dos Democratas, mas dos partidos da base aliada desses dois governos composta pelo DEM, PSDB e PPS.

Em São Paulo, a situação é desconcertante. O candidato a presidente, discursando em Brasília, lançou o slogan da derrota: ”Vote num careca e leve dois”. Liquidou-se. Ouvi dizer que alguns deputados não aceitavam o nome Democratas. “Parece nome de bloco carnavalesco”, diziam. O carnaval acabou, troquem o nome.

Maciel, grande articulador político, sabe que a batata do DEM está assando. A chapa do PSDB, que estava carimbada com um Democrata à vice, foi pro lixo. Isso não é pouca coisa para um partido que sempre esteve à sombra da poderosa direita deste país.

Certamente haverá muita discussão, brigas para acertar outro nome ou mesmo outro partido para compor e atender aos anseios do PSDB. Imaginemos o prejuízo político e econômico dos três partidos que estavam prontos para massacrar a pré-canditada Dilma, do PT.

A comissão de frente, do Reino dos Democratas, esta na passarela. A fantasia, a mesma de sempre, de palhaço; Perdendo Brasília e São Paulo, vai dançar: “pinta de palhaço, foi este o meu amargo fim”.

Ventura Picasso – Secretário do SINTAPI Sindicato Nacional dos Trabalhadores Aposentados, Pensionistas e Idosos. 22022010
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4.2.10

CARNAVAL NA CÂMARA

FOLHA DA REGIÃO 14022010
VENTURA PICASSO


Tem gente, engraçada, que fica triste quando chega o carnaval. Graças a deus, o Brasil é o país do samba, carnaval e futebol. Eu não sei quem inventou ou quando o carnaval surgiu. Só sei que é tempo de festa, de alegria, de esquecer os pecados e começar de fato um ano novo.

Muitas famílias que trabalham de segunda a segunda, que vendem as férias, que estudam à noite, tentando sobreviver no vai e vem do balanço da vida, no sacrifício total buscando um futuro melhor, só tem três dias no ano para explodir de alegria - carnaval.

O carnaval é festa do povo. Do bando de loucos, que cantam até ficar roucos (Gaviões), mais do que loucos com seus direitos garantidos. Aí, lá pelas tantas, aparece um ‘representante do povo’, o vereador da Platibanda, que deveria ler pelo menos o expediente da Câmara, votando contra a maior festa popular do país. Sai pra lá!

O nosso carnaval em 2010 está colocando na Avenida dos Araçás, todas as escolas de samba do grupo 1, devidamente registradas na Receita Federal e com cartão do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ. Nem transportadora de doentes tem esse status!

Votar por votar na Câmara, e votando contra, não por ser contra a proposta, mas por ser contra as pessoas que fazem os encaminhamentos. Esses são os políticos que amarram o nosso desenvolvimento. Não cabe em suas cabeças, que as diferenças pessoais não entram nas disputas coletivas, principalmente, quando rolam os interesses do povo.

É carnaval, gostem ou não gostem do Lula, se você assistir ao filme, você vai chorar! E nós aqui, com chuva ou sem ela, vamos ver a Escola de Samba Sonho e Fantasia, a Virada do Sol, a Unidos da Zona Leste, os Acadêmicos Unidos do Embu e Os Caprichosos. Não vou chorar na avenida, vou lavar a alma e o corpo, tenho só três dias para esquecer meus pecados!


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Ventura Picasso – Secretário do SINTAPI base Araçatuba. 04022010

1.2.10



ASMA – A vida é um sopro
Ventura Picasso

Eram cinco irmãs para quatro camas, à noite, a caçula pegava carona na cama de quem estivesse de bom humor. Dormiam naquele quarto, em Los Angeles, sete ou oito pessoas, todos Williams.

O número sete é indivisível. O cabalístico sete, usado por políticos, religiosos e feiticeiros: O prefeito Cido Sério, em 2009, deu nota sete para seu governo. Quem elegeu os sete pecados capitais, Caboclo Sete Flechas e etc.? Gosto do Chanel n°5. E existe a outra banda: O sete da sorte, candidato com sete na cédula, enquanto que o n°13 dá azar. O treze é do Lula, azar da oposição. Alguns edifícios na América não contam o 13° andar.

Eu, que já passei por quase tudo na vida, não sou indivisível. À procura de socorro me divido. Entrei no Pronto Socorro, à procura de ajuda, em plena sexta-feira às 13h, pode crer que fria. Sexta é dia de Happy hour. E eu, como grávido, queria respirar pela minha parceira, quando ela dizia desesperada: ”Eu quero encher o pulmão de ar”!

O doutor Eduardo Jorge defendia os direitos do doente como uma das maiores conquistas dos movimentos populares. Entusiasmado falava em acolhimento, em humanização do atendimento ao paciente. Dizia ele: “O doente para ser atendido, não precisa de documento, precisa estar doente.”

Chegamos ao Pronto Socorro Municipal, após passarmos pelo HM e pela Santa Casa. Perguntei à recepcionista:
− Onde se faz inalação?
− No corredor, na primeira sala à esquerda.
Chegamos.
− O senhor faz inalação?
− Faço. Aguarde nessa fila.
Mostrou-me um lugar onde havia quatro pessoas à espera de atendimento. No lado oposto à sala que o enfermeiro atendia, havia certamente, seis inaladores desocupados.
− Ela está com falta de ar.
− Aguarde a sua vez.
Claro, fazer infiltração na bundinha de uma moça, sem duvida, para o atendente é mais importante. Mas, claro, notei que não havia protecionismo ou algum interesse imoral naquele procedimento. Havia incompetência das grossas. Mesmo por que, ele ainda atendeu uma menina e um senhor idoso, gastando ali, enchendo os tubos, esvaziando a seringa, mais umas três injeções. A minha parceira descoloriu-se.

Finalmente a nossa vez.
− Pois bem, o que a senhora está sentindo.
− Falta de ar, interferi, uma vez que a mulher já estava debilitada.
− Trouxe a receitinha?
− Revirando a bolsa encontrei uma “receitinha” de 26 de dezembro.
O enfermeiro, burocrata a esta altura, devidamente acomodado, isto por que, enfermeiro que se preza não senta, se acomoda como dizia o velho Jamelão, abrindo a receita olhou a assinatura do médico. A seguir conferiu a data da mesma. Bateu martelo baixando o veredito:
− Já estamos em janeiro, essa receita não serve, venceu. Você chega ali na frente, no atendimento, está cheio de médicos para refazer sua receita.
− Mas, ela está com falta de ar!
− E como eu vou prestar contas à chefia fazendo a inalação com essa receita?
Às pressas, voltamos à recepção para conseguir a tal receita. O Hall de espera do Pronto Socorro Municipal estava lotado.

Por sorte lembrei-me da UBS do Jardim Brasília. Já estávamos no palco, vivendo essa comédia, por mais de duas horas. Caminhando com certa dificuldade, chegamos ao estacionamento. Pegamos o Fusca, e com o spray Aerolin, mantinha alguns brônquios funcionando. Chegando à UBS o atendimento foi bem melhor. Mesmo assim, com todos os inaladores desocupados, passamos pelo burocrata.

À noite não dormi. Somatizei; a falta de ar estava em mim. Fui tolhido por um cansaço, que há muito não sentia. Na madrugada, Venus Williams contra Casey Dellacqua no Aberto da Austrália. Sempre fico admirado com as irmãs Williams e nessa noite, me passou pela cabeça, a bobagem da minha fobia. E se a Serena tivesse asma?
− Asma?

Um filósofo me explicou que é mais suave ao doente, a expressão bronquite. A palavra asma é agressiva. E eu entendi que bronquite é asma litgh. Por outro lado, um pneumologista tentou me explicar tecnicamente tudo direitinho, não entendi nada. Só sei que, quando o asmático está com falta de ar, na verdade está com excesso de ar. Os pulmões não conseguem expelir o ar contido em seu interior. E se o ar queimado não sai o novo, fresquinho, não entra. Parece mesmo porta de elevador, se um não sai o outro não entra. Aí, cara, é pronto socorro urgente!
− Urgente?

A estética do discurso do ‘acolhimento’ é romântico. Ninguém acredita. Talvez por isso, poucos funcionários da área da saúde o praticam. A vida se resume num sopro; Quando chegamos ou quando deixamos esse mundo, o primeiro e o último sopro. O ar que respiramos é vida, portanto, quem pode facilitar essa ação tem a obrigação de respeitar essa máxima. Dependemos de ar para viver!

Qualquer uma de nós poderia ter vencido, respirando aliviada, disse Williams após receber o troféu Daphne Akhurst Memorial Cup. Serena derrotou a belga Justine Henin neste sábado, 30/01/2010, conquistando o seu quinto título do Aberto da Austrália.
Ventura Picasso 01022010
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