11.11.10

Tiririca sim, mamãe

VENTURA PICASSO

Tiririca escreveu e leu, e ainda mais, falou ao magistrado o que leu. Foi à moda antiga: Exame escrito e oral. Formidável, o deputado mais votado do Brasil, em 2010, não é analfabeto funcional. Certamente não estudou em São Paulo, sob o signo tucano, na roleta progressiva do ‘jênio’.
A erudição do candidato preferido pela maioria surpreendeu a plateia não só na geral, mas até no picadeiro. O texto do ditado ‘sorteado’ para o exame no TRE foi um paragrafo da página 52 do livro editado pelo tribunal: “Justiça Eleitoral, uma retrospectiva”. Covardia.

O vocabulário usado entre os agentes do judiciário é coisa restrita, só eles entendem o que escrevem. Seria justo que a justiça elegesse um texto popular para o nosso candidato a deputado federal, e suspeito analfabeto, que tem na mochila mais de um milhão e trezentos mil votos.

Por que não: “A macaca é má”, da Beneticta Sthal Sodré, na Cartilha Sodré da Companhia Editora Nacional (1960). Nada a ver com a Ponte Preta de Campinas, alcunhada de macaca má. Ele passou algumas horas nas dependências do tribunal. Torturando a caneta arranhando letras ludicamente. Coisas que ele não fará na Câmara. O que é democracia?

O recordista de votos de 2010, com diploma de motorista de ônibus e de caminhão, ele, como tantos outros é um legitimo representante da espécie humana. Seus eleitores, certamente, votaram no personagem e não no artista. É proibido? Não podemos ter no congresso um palhaço? A ficha do candidato sumiu? Palhaço não tem dignidade, integridade moral, sensibilidade social?

A tentativa de impedir a posse de Tiririca foi o último ato de uma ópera fantástica. A frase da campanha que fica na lembrança: “Serra não, mamãe”! Nós que não temos automóvel, e mesmo assim pagamos pedágio paulista incluso nas prestações das Casas Bahia, apoiamos o deputado Tiririca e o acerto dos seus eleitores. Acabamos de receber uma grande lição que o direito ao voto deixou e, a certeza de que o deputado não entrou na roleta progressiva das escolas do ‘Jênio’. “Tiririca sim, mamãe”!
Ventura Picasso
1724

1.11.10


Voto roubado
Ventura Picasso
Acompanho como militante, desde muito jovem, a vida politica brasileira. Repetindo a mesma frase de tantos, que como eu, estão aturdidos com as mentiras, os vídeos e o vocabulário usado nessa contenda: As eleições, para presidente da república em 2010, não aconteceram. O ex-candidato José Serra, após uma metamorfose estática, ao revelar o seu lado esquisito, sozinho e em seu claustro na sua paróquia tirou pra dançar, ao próprio Papa, o rei do Vaticano. Certamente, esse beato, sonhava com a canonização. Um santo.
A falsidade demonstrada intrigou até o mais inocente dos eleitores. Frequentou quermesses, procissões, comungou em Aparecida, beijou santo no nordeste, consolou e beijou Aécio em Minas, insolente abraçou Geraldo na despedida da derrota. Abusado, ridiculamente, abusado. Morava na Mooca, se morasse no Tatuapé ele seria diferente. No meu bairro as meninas eram respeitadas. Fomos educados: primeiro os mais velhos e as mulheres. Beijo de Judas, nem pensar.
Mulher não entra! Ora? E agora? Não sabia o que fazer com uma mulher guerrilheira. Seria ela estrangeira? Búlgara? Comunista? No mínimo deu talidomida pra mãe do Saci. Ela é a favor do aborto, do casamento gay (união civil de pessoas do mesmo sexo) e, não acredita em Deus! Esse era o mote da campanha tucana. Um roubo!
Como diria o Presidente Lula: ‘nunca, jamais, em tempo algum, alguém poderia imaginar o rumo do debate entre os presidenciáveis’. Eleito com um milhão e trezentos mil votos, assustado com a performance eleitoral, apareceu Tiririca: “Serra não mamãe”! Tiririca, um escravo da verdade, na sua simplicidade diz que não sabe nada, sabiamente, conclui que Serra jamais será presidente.
“Você pode enganar uma pessoa por muito tempo; algumas por algum tempo; mas não consegue enganar todas por todo o tempo.” Não sei de quem é, mas é a frase da hora.
Não deu desta vez, apesar dos votos roubados, e nunca dará. O preconceito nacional contra a mulher, cientificamente dirigido, foi derrotado pelo voto dos quinze milhões de novos empregos com carteira assinada. Nas manchetes da imprensa derrotada, o PIG (Partido da Imprensa Golpista) não perdoa, o destaque da mulher eleita presidenta.
Pode ser que, de agora em diante, a mulherada tome gosto pelo poder. Não é possível entender como não houve uma enxurrada de votos femininos nas urnas da Dilma. Ela é a heroína da resistência brasileira contra a ditadura assassina. Ofereceu a vida, perdeu a liberdade, foi supliciada em nome de um ideal, e o nosso voto, o meu e o das mulheres seria o reconhecimento, mínimo, de tudo o que ela fez pela pátria.
Repetindo a mesma frase de tantos, que como eu, estão aturdidos com as mentiras, os vídeos e o vocabulário usado nessa contenda: As eleições, para presidente da república em 2010, não aconteceram. José Serra, do alto da sua arrogância, no frio reconhecimento da vitória de Dilma mulher, isso mesmo, o fujão perdeu de mulher, declamou com cara de santo, cínico e ligeiramente desenxabido o verso do Hino Nacional: “Verás que um filho teu não foge a luta”.
Veio bem a calhar, ele nunca mais será o mesmo. Certamente, esse beato, sonhava com a sua canonização. Um santo.
Dilma Rousseff foi incluída entre os 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009, pela Revista Época.
Ventura Picasso 2724