20.3.11

Visto pro Obama

Um casal viajante, cruzando o centro da cidade de moto, avista uma linda bananeira bem no meio da avenida. Eles nunca, jamais em tempo algum, tinham visto um cenário igual. Uma bananeira tratada, verdinha. O asfalto contornava o tronco da planta grávida do primeiro cacho.

O menino e a parceira, volteando a musa, incrédulos, desligaram a moto e, à sombra, se puseram a examinar o raro vegetal. Sem dúvida eles estavam diante de um acontecimento ecológico raro onde a força da natureza, rompendo o piso asfaltoso esfarelado, surgia vitoriosa. A proteção do meio ambiente é a salvação da lavoura.

Assentaram

Assentados como se estivessem meditando entoaram aquele verso sem dó: “Fuma, fuma, fuma folha de bananeira/fuma na boa que é brincadeira...”.

Passado algum tempo, juntavam ali ao redor da árvore, outras pessoas curiosas, para saber o que se passava. Como aquela história quando alguém fica olhando pra cima, em seguida muita gente quer ver o que o outro finge ver.

O trânsito no local estava prejudicado. Os carros passavam bem devagar para ultrapassar aquele obstáculo. Não pela presença da intrépida bananeira, em plena via pública, mas por um grupo de jovens regueiros munidos de berimbau, acompanhado por um índio boliviano flautista que declarou: “Nunca me olvidaré que en medio del camino había una banano”, me perdoe o Drummond, mas se em Itabira tinha uma pedra, aqui tem bananeira.

Os manos e as minas cantando empolgados, orquestraram o “Fuma, Fuma” do Armandinho (Armando Antônio), quando foi pedido um minuto de silencio. Apareceu um funeral. A fila era grande. Os automóveis passavam com dificuldade pelo lugar. O silêncio sepulcral. Nisso uma Brasília amarela, roncadora produzindo mais de 85 decibéis na ponteira da tromba, afundou na passarela. Os meninos voluntários empurraram a bicheira com a suspenção quebrada. No vidro encardido um adesivo.

“Visite Araçatuba antes que acabe!”

O casal motoqueiro lembrou-se de Ribeirão Preto. Lá um idiota saiu com uma frase de efeito que dizia: “Ribeirão Preto, a Califórnia brasileira!”. Deu na TV Globo! Foi o que bastou. Chegou meia América, gente das Malvinas a Cancun. A cidade inchou. Vieram às primeiras moradias precárias (favelas), faltava tudo e mais alguma coisa. Hoje é uma das cidades mais poluídas de São Paulo. Falha nossa. Nossa?

A aqui em Araçatuba o mano e a mina, confabulando, chegaram à conclusão que não é possível estacionar no centro da cidade, certamente, porque está cheia de visitantes. Gente atrasada que pensa: “a cidade vai acabar”. Uma pena. Joguei fora o meu chaveiro de ponto da zona.

O casal de viajante, não seguiu viagem. Desistiu. Estão amando Araçatuba. O destino era Lins para assistir ao jogo do Corinthians. Mas, oitenta reais ao sol é roubalheira. O casal tem tudo: Parabólica, TV a Cabo, VHF/UHF, ESPN, SPORTTV etc., mas não conseguem assistir a um clássico como Corinthians e Santos. Além de pagar uma nota preta para ter esse trem apitando na sala, é obrigado a assistir a propaganda frenética da SKY que vende o combo; Jogo? Que jogo que nada; Quem é o dono da Globosat Programadora Ltda.

Eles nunca, jamais em tempo algum, tinham visto um cenário igual. A esta altura a bananeira já deu cacho e nada foi resolvido. O boliviano quer saber quem deu o visto de entrada pro Obama discursar na Cinelândia...

Enquanto isso eu vou descendo a minha lomba/Andando de skate estourando aminha bomba/ Fuma, fuma, fuma...

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Foto:Blog Alessandro R. O. Paes