ter,
14/01/2014 - 06:00 - Atualizado em 14/01/2014 - 07:10 http://jornalggn.com.br/noticia/a-epidemia-dos-indicadores-economicos-quase-irrelevantes
Na semana passada, analistas de mercado consultados
pela pesquisa Focus, do Banco Central, previam um crescimento do PIB de 1,99%
para 2014. Uma semana antes, a previsão era de 1,95%. Qual a relevância dessa
variação? Nenhuma.
O Índice de Confiança da Indústria subiu 1,1% em
relação a novembro, enquanto o Índice de Confiança do Empresário Industrial
caiu 0,2%. Otimismo ou pessimismo? Lá sei eu. A indústria está otimista mas o
industrial pessimista?
Em contrapartida, o PMI da indústria subiu 0,8
ponto em relação a novembro, mas a produção de veículos caiu 5%, enquanto as
vendas de veículos subiram 4%.
Já o fluxo de veículos pesados nas estradas caiu 4%
em dezembro, em relação a novembro, o que não quer dizer nada pois é em
novembro que os caminhões transportam os estoques das lojas para as vendas de
Natal. Já o Índice de Confiança do Consumidor caiu 1,2%, menos que o Índice
Nacional de Expectativa do Consumidor, que caiu 0,5%. E vai-se saber a
diferença entre confiança e expectativa.
***
A análise de conjuntura brasileira transformou-se
em uma procissão de indicadores, cada qual gerando discussões apaixonadas e
sendo utilizados ao bel prazer do analista. Se quer espalhar pessimismo, força
a manchete em cima de qualquer índice com sinal menos – mesmo que,
estatisticamente falando, não tenha ocorrido mudanças significativas em relação
ao índice anterior. E vice-versa, explorar o crescimento, mesmo que tímido e
restrito ao mês em curso.
***
É evidente que os departamentos econômicos mais
refinados montam painéis juntando todos os indicadores, definindo linhas de
longo prazo e relativizando variações inexpressivas.
Mas a discussão midiática se aferra a cada número
como se ele fosse suficiente por si, tirando conclusões taxativas a partir de
variações mínimas das partes. Lembra, em muito, a fábula do elefante e dos sete
cegos – cada cego entendendo o elefante de acordo com a parte do bicho que é
apalpada.
***
Nada contra a proliferação de indicadores. Mas a
discussão sobre cenários econômicos e sobre futuro de país é muito mais
complexa e intuitiva do que a mera acumulação de indicadores conjunturais.
Mais relevantes são os indicadores de desempenho
estrutural da economia, aqueles que indicam o nível de competitividade do
produto brasileiro vis-à-vis os importados, os indicadores de vulnerabilidade
externa, os indicadores fiscais, e, mais que isso, os indicadores sociais – o
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), os indicadores de mortalidade infantil,
de desempenho escolar, de desenvolvimento regional, de eficiência do serviço
público, de qualidade das concessões públicas.
O avanço da Lei de Transparência permitirá cada vez
mais um controle inédito sobre as ações públicas. É chegada a hora dos
economistas que ousem além do curto prazismo do mercado, que entendam o país de
forma ampla e sistêmica, que formulem diagnósticos setoriais, que saibam medir
os avanços em inovação.
***
Antes da crise de 2008, os cabeças de
planilha julgavam decifrar a economia nacional e internacional meramente
estabelecendo correlações mecânicas entre câmbio, preços de commodities, taxas
de juros.
Precisou uma crise global para entender que a
economia é muito mais complexa do que os modelitos que cabem em uma planilha.
De Luís Nassif postado por Ventura Picasso- 14012014 15:57.
0 comentários:
Postar um comentário