31.5.14

Conjuntura esquisita?





Adital - http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80775

O professor da PUC-Rio Luiz Wernek Viana se propôs interpretar em artigo recente o que ele denomina a difusa sensação de mal-estar, as manifestações e os abalos que têm marcado a vida das grandes cidades brasileiras. Como é possível compreender que tenhamos a mais democrática das constituições de nossa historia, políticas bem sucedidas de inclusão social e cresça entre nós uma descrença generalizada nas pessoas e nas instituições, a distância entre governo e sociedade civil? Por que a Copa do Mundo no país do futebol é rejeitada pela metade da população? Isto tudo revela que vivemos uma conjuntura "esquisita”. O fator fundamental de explicação seria a hegemonia do economicismo em nossa vida social não rompido pelos governos do PT: a política foi subordinada à economia, o país dialoga muito com o mercado e pouco com a sociedade. É a lógica do lucro /consumo que dá o tom de nossa vida coletiva.

O estranho nesta hipótese explicativa é que ela transforma o economicismo num dado conjuntural, quando ele sabe como sociólogo que se trata de um elemento estrutural das sociedades modernas. No tipo concreto de sociedade moderna que temos, a capitalista, a tendência de fundo à mercantilização de todas as coisas leva a reduzir todo valor a valor de mercado: valores familiares, amor, sexo, valores políticos já que o dinheiro penetra em todas as relações políticas, valores culturais mesmo que esta tendência encontre resistência em outras lógicas sociais. Isto gesta uma visão de mundo que tem na acumulação e posse dos bens materiais o fator de decisivo da felicidade humana. Trata-se de um valor considerado evidente e capaz de impregnar todas as relações constitutivas da vida. Desta forma, por exemplo, a relação ser humano x natureza é profundamente transformada assim que o sistema por ele conduzido não tem escrúpulos em esgotar e aniquilar fisicamente todas as forças da natureza se isto se mostrar necessário para o crescimento econômico ilimitado agora dirigido pelas novas revoluções tecnológicas que produziram uma situação global de desemprego e, consequentemente, nova forma de degradação das vidas humanas.

Para o economista egípcio S. Amin, o modo de produção capitalista constitui uma ruptura qualitativa com os sistemas que o antecederam porque no mundo moderno a lógica mecânica da lei do valor não gere apenas a economia, mas a totalidade do sistema social. Todas as esferas da vida social são subordinadas à dominação da lei inflexível da acumulação do capital que conduz as sociedades a um crescimento exponencial no quadro de uma autonomização das leis econômicas em relação a seu enquadramento pela esfera político-ideológica que caracterizou os sistemas anteriores ao capitalismo. Daí a centralidade da economia na política de um estado moderno e na vida das pessoas que terminam assumindo uma visão sensual-materialista da vida. Emergiu na vida uma nova doença: a "compra compulsiva” no contexto de um ideal consumista de vida que se fez agora constituinte básico da vida humana. Nesta perspectiva o capitalismo re-significa a totalidade da experiência humana.

Manfredo Araújo de Oliveira
Padre e filósofo. Professor na Universidade Federal do Ceará (UFC). Mestre em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma, Itália, e doutor em Filosofia pela Universidade Ludwig-Maximilian de Munique, Alemanha. Assessor das Pastorais Sociais e padre da Arquidiocese de Fortaleza. É Presidente da ADITAL

26.5.14

Por um fio

Contra mão
Araçatuba e suas placas. Hoje a Folha da Região (na pg B4 22052014) trouxe uma delicada notícia, citando o equívoco de uma equipe do Departamento Municipal de Trânsito, na recolocação de uma placa indicativa de direção.

Não há crítica por conta da trapalhada. Ninguém cobra competência. O tira e põem, idas e vindas, dos vários departamentos envolvidos, e finalmente lá está a tal placa feliz e garbosa desfilando.

Parece turista brasileiro indiferente, ignorando a crise de 2008 até hoje, estourando o orçamento da nossa balança comercial, em Miami. Não se preocupam com a balança, ou com o preço da placa e gastam nossas reversas nos State. Oh Miami...  

Mas a placa da Avenida Brasília, que nada tem em comum com a balança nacional, não é a única, muito menos a última, a envolver-se numa trama trash.

Está lá há anos. Na Rua Bandeirante esquina com Rua Tiradentes. Nesse cruzamento nunca passou um funcionário com crachá municipal, e competente, que perceba dez paus de remuneração mensal.  

Os postes são dois, abraçados, num agradável agarra agarra. A placa em questão está lá em cima, não indica ao frenético corre-corre nada com nada, feito boba.

Mas, incomoda. A imprudência é vinculada à sorte. Veja bem: Os dois elementos brincando na esquina são de ferro. A placa é metálica. Os fios da rede elétrica, vivos prontos para acolher a placa. Encostou sai fogo!

Ninguém olha para cima! E seguindo a direção indicada pela placa vai levar o maior choque!

A coligação que governa a cidade é tipo ‘feijoada Princesa Izabel’: Numa panela é posto tudo o que existe na dispensa, e fogo na base. A base da bancada governista ganha tudo.

Aqui na província não há ‘bancada do povo’. Araçatuba está mais para Bagdá do que para Palma de Mallorca e por um fio, hein!

Ventura Picasso – www.picassoventura.blogspot.com.br
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21.5.14

China:



A volta do império do meio
quarta-feira, 21 de maio de 2014 - Por Mauro Santayana, em seu blog: Postado por Miro. http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/05/china-volta-do-imperio-do-meio.html

Técnicos do Banco Mundial anunciaram, em estudo divulgado na semana passada, que a China acaba de ultrapassar os EUA em poder paritário de compra, como a maior economia do mundo.

Os chineses costumam dizer que “não interessa a que velocidade você caminha, mas sim, para onde está andando”.

Para o Brasil, quinto maior país e sétima economia do mundo, a inevitável ascensão chinesa, agora voltada para ultrapassar os EUA em PIB nominal, e, um dia, alcançá-lo em tecnologia, defesa, e, com menor desigualdade, em renda, traz inúmeras lições.

A mais importante delas é até onde se pode chegar com um projeto de país baseado no nacionalismo – e não no proverbial entreguismo vigente em nosso país nos últimos 20 anos.

O Estado chinês não financia capitais externos, a não ser que a eles se associe majoritariamente. Ciente da importância de seu mercado interno - convenientemente fechado por muitos anos - ele não empresta dinheiro público para que marcas de automóveis estrangeiras se instalem no país. No lugar disso, compra participação em suas matrizes. E faz isso em todos os setores da atividade econômica.

Seu bem sucedido projeto de desenvolvimento está baseado na presença – serena e incontestável - do estado como proprietário de meios de produção e elemento indutor na economia, em parceria com capitais locais e o capital estrangeiro, que tem que se contentar com um papel secundário no processo, a não ser que queira ficar de fora de um dos maiores mercados do mundo.

Os chineses sabem que de nada adianta industrializar o país e modernizar a economia, se os lucros voarem, todos os anos, para o exterior, como as andorinhas. Afinal, países não são poderosos apenas pelo que produzem, mas também pelo que consomem. Ao ultrapassar os Estados Unidos como o maior mercado do mundo, embora ainda não seja o maior importador, a China dá gigantesco passo rumo ao futuro.

Nos últimos quatro mil anos, a maior parte do tempo, os chineses estiveram à frente da maior economia. A diferença é que - fechados dentro de si mesmos - seus dirigentes encaravam o resto do planeta como bárbaros e sem o refinamento e a educação de sua cultura. Com nações interessadas em invadir e destruir seu império, como o “ocidente” fez tão logo pôde, implacável e solerte, em defesa, entre outras causas edificantes, do tráfico de drogas pela Coroa Britânica, que deu origem às Guerras do Ópio.

A diferença entre o Império do Meio de antes e o Império do Meio de hoje, é que a Revolução Maoísta abriu a porta para transformar os camponeses em operários, e, até mesmo, em milionários e empreendedores. Além de que o espaço natural para seus produtos e negociantes, estava, antes, quase sempre, cercado pelas sinuosas curvas da Grande Muralha, enquanto, agora, os limites da influência da Nova China avançam para se transformar, cada vez mais, nos próprios limites do mundo.