Programa nº 2579
Por
Luciano Matins Costa em 07/04/2015 |
http://observatoriodaimprensa.com.br/radio/o-jornalismo-sem-sutilezas/
Comentário
para o programa radiofônico do Observatório, 7/4/2015
O texto
jornalístico vem perdendo qualidade há muitos anos e a imprensa brasileira se
caracteriza hoje, entre outras coisas, pela pobreza homogênea dos recursos
linguísticos. Nos estudos acadêmicos sobre a questão, destaca-se a produção do
falecido repórter Marcos Faerman, que segue sendo tema de livros e teses de
pós-graduação, passados mais de quinze anos de sua morte. Entre os jornalistas
vivos, destaca-se a também gaúcha Eliane Brum, que atua no site brasileiro do
diário espanhol El País.
Nem é o
caso de procurar algum exemplo do que comumente é chamado de “jornalismo
literário”: a qualidade da narrativa caiu tanto que se tornou difícil encontrar
qualquer coisa que anime aqueles que se comprazem com a boa leitura. Pode-se
dizer que esse processo de empobrecimento tem um ponto inaugural no chamado
“projeto Folha“, que no final dos anos 1980 marcou a ofensiva do jornal
paulista contra seu então concorrente, o Estado de S. Paulo.
Um dos
pressupostos daquela pretensiosa agenda era a concretização da objetividade em
todo o conteúdo editorial. Os então jovens editores que foram na ocasião
inseridos na redação da Folha de S. Paulo criticavam o engajamento dos
repórteres nas histórias que iam cobrir e chamavam, pejorativamente, de
“jornalismo impressionista” tudo que tivesse alguma coloração literária. Essa
ilusão de objetividade vinha acompanhada de uma ignorância tão arrogante que
chegou a inspirar um romance – intitulado O crepúsculo das letras –
do falecido escritor e jornalista Ronaldo Antonelli.
Com
alguns artifícios de marketing, como a soma de exemplares de cortesia
nas tiragens, a circulação diária da Folha chegou a superar o milhão de
exemplares, o que ajudou a convencer os gestores dos outros jornais a adotar o
modelo. Além do texto curto e seco, cresceu a obsessão pelos infográficos e até
mesmo a fotografia se tornou mais dura, com inúmeros episódios de personagens
retratados em situação deletéria, expostos à sua revelia nas primeiras páginas.
Esse
jornalismo de relatório encontrou, no início deste século, as redações
empobrecidas pelo pragmatismo e a gestão baseada no corte de custos. A
transformação dos principais jornais em panfletos políticos completou o quadro.