Ventura Picasso
Doze horas
e quinze minutos. O ‘Centro Novo’ fervia com a pressa paulistana. Milhares de
pessoas em busca de um lugar para o almoço.
Os brasileiros,
como dizem, pode não ter memória, mas muitos que nasceram na década de 40, ainda
podem lembrar. Meras recordações...
Um dia de
março de um mil novecentos e sessenta e quatro. O último mês de Jango.
Os
operários organizados sabiam que, desde 1960, a nação estava golpeada. Não
havia nada a fazer. A conjuntura, para os mais informados, acusava uma tragédia
a ser anunciada, faltava combinar o dia e a hora.
As greves
contínuas de 1963, para os trabalhadores, fora dramático. As ‘Reformas de Base’
propostas pelo governo aterrorizavam as elites. O Presidente da República, na
chapa de Jânio renunciatário, eleito separadamente, após um rearranjo político
parlamentarista, assumiu.
Através de
um plebiscito os eleitores devolveram ao Brasil o presidencialismo.
A Liga das
Senhoras Católicas marcharam com a família, com Deus, pela liberdade, contra os
comunistas. A liderança vermelha, num país com dimensões gigantescas, cabia
dentro de um fusca, ainda sobrava lugar para mais um. O Alfredo Syrkis não
apareceu, perdeu a mochila.
Sonhavam
com um ditador civil. Não um Peron. Um Franco ou Salazar. O mesmo sonho do
Almir: ‘O general fecha o palácio e nomeia um zelador’.
— É?
Cantamos
‘Parabéns a você’ à Elis Regina. Era 17 de março. E ela era uma das nossas mais
queridas. Pimentinha ardida metia a boca no sistema.
Entre cinco
e seis horas da manhã, saímos em duplas, e nunca mais nos encontramos. Alguns
foram em direção ao Viaduto Maira Paula, outros ao fim do mundo.
Escondido
na fumaça do gás lacrimogênio, com gosto de redoxon efervescente na boca, era
tudo que tínhamos contra a correria embrutecida dos cavalos da ditadura. E
muito medo!
O Brasil
fechou. Ano zero... Eu te amo meu Brasil eu te amo...
A
transportadora de valores, na traseira do caminhão a logomarca em verde e
amarelo, repetia o discurso reacionário: “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
A
resistência era pouca, a truculência era muita.
Vinte anos
depois, com a Previdência Social quebrada, o ditador cabisbaixo sai pela porta
de serviço.
A mídia
moralista chama de revolução um assalto à mão armada, o golpe de Estado.
Um mil
novecentos e oitenta e cinco.
O
presidente eleito se apresenta morto. Restou o vice, o mais poderoso político
do país, José Sarnei. Assumiu a herança falida deixada pelos militares,
enganando a sociedade, que apareceram como os salvadores da democracia contra
os comunistas.
Foi no
quinze de março que Sarney tomou posse como presidente da república, indireto,
em 1985.
— Lembra?
A direita conservadora
sente saudades da moratória, de 1989, os fiscais do Sarney festejaram naquele
dezembro, a inflaçãozinha de 1.764,86%.
As
tentativas feitas por Ribamar: o Plano Cruzado, Cruzado II, Bresser, Moratória
FMI, Verão e Cruzado Novo. Nada funcionou.
A duplicata
vencida, o jornal pagava, só dividindo.
Por tudo
isso, o mandato de Sarney, foi prorrogado para cinco anos.
Fernando
Collor, eleito presidente assumiu em 1990, junto com Zélia Cardoso. Uma grande
festa no Brasil, em Birigui, nos Jardins, nos clubes mais chiques do país e na
Casa da Dinda.
Zélia em
março de 1990, chegou chegando, confiscando os depósitos em conta corrente e na
poupança.
Para
divertimento da elite que o elegeu, Collor de Mello, e em agradecimento,
depositou 50 mil cruzeiros no banco em conta corrente para o Almir e a todos os
correntistas do país.
Era dia de
vale. Foi o ‘after day que não terminou’.
O hospital
do coração, na Rua Desembargador Eliseu Guimarães, no Paraíso, a clientela, por
muitos dias seguidos, chegava infartada ou com um simples AVC, o trânsito de
helicópteros e ambulâncias congestionava na entrada do pronto socorro. Assim
foi o março da Zélia.
Seria
divertido se não fosse trágico. Logo eles, os mais ricos, não mereciam... Sem exagero,
muitos deram a vida, concretamente, para eleger o varão de saco roxo.
Itamar
Franco pegou o resto do governo Collor. Elaborou e colocou em prática o Plano
Real.
— É
corrupto? Prenda! Dizia o novo presidente.
A polícia
federal correu o mundo em busca do PC Farias braço direito e esquerdo de
Collor; Itamar, um bom presidente, desrespeitado pela mídia hipócrita. Lilian
Ramos, sem calcinha no palanque, fotografada, ao lado de Itamar Franco.
FHC, o
Farol de Alexandria, eleito presidente em 1995, vaidoso procurava títulos
honoris causa pelo mundo. De Paris a Moscou, um luxo!
Assumiu em
1995, aprovando a reeleição, se reelegeu, hoje porém não quer mais reeleições.
Dizem as
línguas de todos os orixás que a tal reeleição nos custou um empréstimo do FMI
para cobrir os custos da ideia do projeto.
Os oito
anos de FHC renderam 12 milhões de desempregados. A dívida ao FMI de US$40
bilhões - foram três corridas ao FMI -, impagável. O BNDS e as privatizações:
§ AES SUL
(CEEE Distribuição) – vendida para a empresa americana AES;
§ BANDEIRANTE
Energia – vendida para o grupo Português EDP;
§ CELPE –
vendida ao grupo espanhol Iberdrola;
§ CEMAR –
vendida ao grupo americano Ulem Mannagement Company;
§ CESP TIETE –
vendida para a empresa americana DUKE;
§ CETEEP –
vendida para a empresa estatal Colombiana ISA;
§ COELBA –
vendida ao grupo espanhol Iberdrola;
§ CONGÁS –
vendida ao grupo britânico British Gas/Shell;
§ COSERN –
vendida ao grupo espanhol Iberdrola;
§ CPFL –
vendida para o grupo brasileiro VBC;
§ ELEKTRO –
vendida para a empresa americana ENRON;
§ ELETROPAULO
– vendida para a empresa americana AES;
§ ESCELSA –
vendida ao grupo português GTD Participações, juntamente com o consorcio de
Bancos Iven S.A;
§ GERASUL –
vendida para empresa Belga Tractebel;
§ LIGHT-
vendida ao grupo francês e americano EDF/AES;
§ RGE –
vendida para o grupo brasileiro VBC;
§ BAMERINDUS –
vendido ao grupo britânico HSBC;
§ BANCO
BANESPA – vendido ao grupo espanhol Santander;
§ BANCO
MERIDIONAL – vendido para o Banco Bozano;
§ BANCO REAL –
vendido ao grupo ABN-AMRO, hoje sob o controle do grupo Santander;
§ BEA (Banco
do Amazonas S.A.) – vendido ao Bradesco;
§ BEG (Banco
de Goiás) – vendido ao Itaú;
§ CARAIBA –
Mineração Caraíba Ltda;
§ CIA. VALE do
RIO DOCE;
§ PQU (Petroquímica
União S.A);
– Empresas de Telecomunicação do grupo TELEBRAS:
EMBRATEL, TELESP, TELEMIG, TELERG, TELEPAR, TELEGOIÁS, TELEMS, TELEMAT, TELEST,
TELEBAHIA, TELERGIPE, TELECEARÁ, TELEPARÁ, TELPA, TELPE, TELERN, TELMA,
TELERON, TELEAMAPÁ TELAMAZON, TELEPISA, TELEACRE, TELAIMA, TELEBRASÍLIA,
TELASA.
A maioria vendida a grupos internacionais:
espanhol, italiano, mexicano e, algumas a um grupo brasileiro.
O pacote
apresentado para vender a Petrobrax, não deu, morreu no berço, perderam as
eleições. Serra já propôs fatiar a Petrobras.
O vampiro
voltou! Recuerdos da Mooca.
Benjamin
Steinbruch, certamente, aguarda a vitória dos tucanos, para junto do BNDS
comprar a Petrobras. Se possível com dinheiro podre.
Não
acredito que, os eleitores queiram voltar ao ‘Ano Zero’.
Os inimigos
do governo contra os Mais Médicos, - contra Lei de Mídia e de olho em 370
bilhões de dólares em reservas internacionais, credor do FMI, líder (banco) dos
BRICS e do MERCOSUL -, devem ser contidos pelo povo.
Esse é o nosso
país em franco desenvolvimento. Não esqueça é tudo o que possuímos para deixar
aos pequeninos que chegam logo após a nossa ida. Não existem
no Brasil comunistas perigosos. Oscar Niemayer faleceu em 2012, Ferreira Goulart,
bacharel em subversão: “...toda sociedade é, por definição, conservadora...”; sossegou
e já é imortal da Academia; coisas da vida que ele não esquece.
Dia 17 de
março será lançada, no aniversário da maior cantora do Brasil, na Livraria
Cultura, a biografia “Elis Regina – Nada será como antes”.