13.3.15

Lembranças de março


Ventura Picasso
Doze horas e quinze minutos. O ‘Centro Novo’ fervia com a pressa paulistana. Milhares de pessoas em busca de um lugar para o almoço. 
Os brasileiros, como dizem, pode não ter memória, mas muitos que nasceram na década de 40, ainda podem lembrar. Meras recordações...
Um dia de março de um mil novecentos e sessenta e quatro. O último mês de Jango.
Os operários organizados sabiam que, desde 1960, a nação estava golpeada. Não havia nada a fazer. A conjuntura, para os mais informados, acusava uma tragédia a ser anunciada, faltava combinar o dia e a hora. 
As greves contínuas de 1963, para os trabalhadores, fora dramático. As ‘Reformas de Base’ propostas pelo governo aterrorizavam as elites. O Presidente da República, na chapa de Jânio renunciatário, eleito separadamente, após um rearranjo político parlamentarista, assumiu.
Através de um plebiscito os eleitores devolveram ao Brasil o presidencialismo.
A Liga das Senhoras Católicas marcharam com a família, com Deus, pela liberdade, contra os comunistas. A liderança vermelha, num país com dimensões gigantescas, cabia dentro de um fusca, ainda sobrava lugar para mais um. O Alfredo Syrkis não apareceu, perdeu a mochila. 
Sonhavam com um ditador civil. Não um Peron. Um Franco ou Salazar. O mesmo sonho do Almir: ‘O general fecha o palácio e nomeia um zelador’. 
— É? 
Cantamos ‘Parabéns a você’ à Elis Regina. Era 17 de março. E ela era uma das nossas mais queridas. Pimentinha ardida metia a boca no sistema.
Entre cinco e seis horas da manhã, saímos em duplas, e nunca mais nos encontramos. Alguns foram em direção ao Viaduto Maira Paula, outros ao fim do mundo.
Escondido na fumaça do gás lacrimogênio, com gosto de redoxon efervescente na boca, era tudo que tínhamos contra a correria embrutecida dos cavalos da ditadura. E muito medo! 
O Brasil fechou. Ano zero... Eu te amo meu Brasil eu te amo...
A transportadora de valores, na traseira do caminhão a logomarca em verde e amarelo, repetia o discurso reacionário: “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
A resistência era pouca, a truculência era muita.
Vinte anos depois, com a Previdência Social quebrada, o ditador cabisbaixo sai pela porta de serviço.
A mídia moralista chama de revolução um assalto à mão armada, o golpe de Estado.
Um mil novecentos e oitenta e cinco.
O presidente eleito se apresenta morto. Restou o vice, o mais poderoso político do país, José Sarnei. Assumiu a herança falida deixada pelos militares, enganando a sociedade, que apareceram como os salvadores da democracia contra os comunistas.
Foi no quinze de março que Sarney tomou posse como presidente da república, indireto, em 1985.
— Lembra?
A direita conservadora sente saudades da moratória, de 1989, os fiscais do Sarney festejaram naquele dezembro, a inflaçãozinha de 1.764,86%. 
As tentativas feitas por Ribamar: o Plano Cruzado, Cruzado II, Bresser, Moratória FMI, Verão e Cruzado Novo. Nada funcionou. 
A duplicata vencida, o jornal pagava, só dividindo.
Por tudo isso, o mandato de Sarney, foi prorrogado para cinco anos. 
Fernando Collor, eleito presidente assumiu em 1990, junto com Zélia Cardoso. Uma grande festa no Brasil, em Birigui, nos Jardins, nos clubes mais chiques do país e na Casa da Dinda.
Zélia em março de 1990, chegou chegando, confiscando os depósitos em conta corrente e na poupança.
Para divertimento da elite que o elegeu, Collor de Mello, e em agradecimento, depositou 50 mil cruzeiros no banco em conta corrente para o Almir e a todos os correntistas do país.
Era dia de vale. Foi o ‘after day que não terminou’. 
O hospital do coração, na Rua Desembargador Eliseu Guimarães, no Paraíso, a clientela, por muitos dias seguidos, chegava infartada ou com um simples AVC, o trânsito de helicópteros e ambulâncias congestionava na entrada do pronto socorro. Assim foi o março da Zélia.
Seria divertido se não fosse trágico. Logo eles, os mais ricos, não mereciam... Sem exagero, muitos deram a vida, concretamente, para eleger o varão de saco roxo.
Itamar Franco pegou o resto do governo Collor. Elaborou e colocou em prática o Plano Real.

— É corrupto? Prenda! Dizia o novo presidente.
A polícia federal correu o mundo em busca do PC Farias braço direito e esquerdo de Collor; Itamar, um bom presidente, desrespeitado pela mídia hipócrita. Lilian Ramos, sem calcinha no palanque, fotografada, ao lado de Itamar Franco.
FHC, o Farol de Alexandria, eleito presidente em 1995, vaidoso procurava títulos honoris causa pelo mundo. De Paris a Moscou, um luxo! 
Assumiu em 1995, aprovando a reeleição, se reelegeu, hoje porém não quer mais reeleições.
Dizem as línguas de todos os orixás que a tal reeleição nos custou um empréstimo do FMI para cobrir os custos da ideia do projeto. 
Os oito anos de FHC renderam 12 milhões de desempregados. A dívida ao FMI de US$40 bilhões - foram três corridas ao FMI -, impagável. O BNDS e as privatizações:


§  AES SUL (CEEE Distribuição) – vendida para a empresa americana AES;

§  BANDEIRANTE Energia – vendida para o grupo Português EDP;

§  CELPE – vendida ao grupo espanhol Iberdrola;

§  CEMAR – vendida ao grupo americano Ulem Mannagement Company;

§  CESP TIETE – vendida para a empresa americana DUKE;

§  CETEEP – vendida para a empresa estatal Colombiana ISA;

§  COELBA – vendida ao grupo espanhol Iberdrola;

§  CONGÁS – vendida ao grupo britânico British Gas/Shell;

§  COSERN – vendida ao grupo espanhol Iberdrola;

§  CPFL – vendida para o grupo brasileiro VBC;

§  ELEKTRO – vendida para a empresa americana ENRON;

§  ELETROPAULO – vendida para a empresa americana AES;

§  ESCELSA – vendida ao grupo português GTD Participações, juntamente com o consorcio de Bancos Iven S.A;

§  GERASUL – vendida para empresa Belga Tractebel;

§  LIGHT- vendida ao grupo francês e americano EDF/AES;

§  RGE – vendida para o grupo brasileiro VBC;

§  BAMERINDUS – vendido ao grupo britânico HSBC;

§  BANCO BANESPA – vendido ao grupo espanhol Santander;

§  BANCO MERIDIONAL – vendido para o Banco Bozano;

§  BANCO REAL – vendido ao grupo ABN-AMRO, hoje sob o controle do grupo Santander;

§  BEA (Banco do Amazonas S.A.) – vendido ao Bradesco;

§  BEG (Banco de Goiás) – vendido ao Itaú;

§  CARAIBA – Mineração Caraíba Ltda;

§  CIA. VALE do RIO DOCE;

§  PQU (Petroquímica União S.A);

– Empresas de Telecomunicação do grupo TELEBRAS: EMBRATEL, TELESP, TELEMIG, TELERG, TELEPAR, TELEGOIÁS, TELEMS, TELEMAT, TELEST, TELEBAHIA, TELERGIPE, TELECEARÁ, TELEPARÁ, TELPA, TELPE, TELERN, TELMA, TELERON, TELEAMAPÁ TELAMAZON, TELEPISA, TELEACRE, TELAIMA, TELEBRASÍLIA, TELASA.

A maioria vendida a grupos internacionais: espanhol, italiano, mexicano e, algumas a um grupo brasileiro.
O pacote apresentado para vender a Petrobrax, não deu, morreu no berço, perderam as eleições. Serra já propôs fatiar a Petrobras.
O vampiro voltou! Recuerdos da Mooca. 
Benjamin Steinbruch, certamente, aguarda a vitória dos tucanos, para junto do BNDS comprar a Petrobras. Se possível com dinheiro podre.                   
Não acredito que, os eleitores queiram voltar ao ‘Ano Zero’.
Os inimigos do governo contra os Mais Médicos, - contra Lei de Mídia e de olho em 370 bilhões de dólares em reservas internacionais, credor do FMI, líder (banco) dos BRICS e do MERCOSUL -, devem ser contidos pelo povo.
Esse é o nosso país em franco desenvolvimento. Não esqueça é tudo o que possuímos para deixar aos pequeninos que chegam logo após a nossa ida. Não existem no Brasil comunistas perigosos. Oscar Niemayer faleceu em 2012, Ferreira Goulart, bacharel em subversão: “...toda sociedade é, por definição, conservadora...”; sossegou e já é imortal da Academia; coisas da vida que ele não esquece. 
Dia 17 de março será lançada, no aniversário da maior cantora do Brasil, na Livraria Cultura, a biografia “Elis Regina – Nada será como antes”.

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